Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

É chato isso

Dia desses, saiu no Correio que há 50 anos, em novembro de 1948, a FM (Freqüência Modulada) chegava ao Brasil – a primeira emissora foi instalada no Rio pela General Eletric. Em Campinas, a FM pioneira, se a memória não falha, foi do seo Abel Pedroso (tudo bom, comendador?), na mesma época em que ele punha no ar a Rádio Publicidade e Cultura, dona dos 1.390 quilohertz. Outra estação foi a Andorinha, do padre Geraldo Azevedo, como a repórter Silvana Guaiume contou domingo. Hoje, entre piratas, comunitárias e legalizadas, muitas “enchem” o dial e a nossa paciência, dificultando a sintonia e a escolha do que interessa.

Demoraram para conquistar o gosto popular – pelo menos trinta anos. Eram exclusivamente musicais, eruditas, e ouvidas, mesmo, só em elevadores de prédios chiques, salas de espera de consultórios médicos mais chiques ainda e algumas poucas residências elegantes, que dispunham de um aparelhinho especial, chamado “Fremo”, para serem captadas. Há emissoras ótimas, mas como quase tudo degenera, o som puro, peculiar a essa faixa, está contaminado por falsos pastores, falsos radialistas, picaretas de toda espécie e até por música sertaneja (música caipira é outra história).

São chatas. Outro dia, conversamos aqui sobre os slogans das emissoras de rádio. Hoje, reconhecendo que muitas delas são chatas, mesmo, uma estação de São Paulo, a “Mix-106.3”, lançou uma campanha: “Chega de escutar coisa chata”. E convida os ouvintes a trocar a mesmice e a mediocridade pela variedade musical.

Nunca ouvi essa rádio na vida nem sei se tudo não é só propaganda. Mas a coleção de “coisas chatas” ouvidas no dia-a-dia e lembradas pela Mix é real. Dê uma olhada (ou “ouvida”, sei lá…):

“Por que você nunca diz que me ama? Só vai para a festa, se levar seu irmão; Sua avó vai dormir no seu quarto; Você terá de trabalhar no fim de semana; O pessoal tá achando que você e gay; Identidade, por favor; Tem uma meleca no seu nariz; Se você tivesse chegado antes, dava; Você acha que eu tô gorda?; Seu currículo é bom, mas o quadro está completo; Foi sem querer; Seu cartão foi bloqueado; Do you speak English?; Tô grávida!; Tio, posso olhar seu carro?; Só joga, se for no gol; Isso nunca me aconteceu antes; Seu pai tá lá fora; Sua ligação é muito importante para nós; Aguarde um instante; Acho que a gente devia ser só amigo; Vote em mim; Agora não, tô com dor de cabeça; Não bati no seu carro, só arranhei um pouquinho; Horário reservado para a propaganda eleitoral gratuita.”

Mas há muito mais “coisa chata” que se ouve a toda hora: “Acabou o café; Ih! Furou a camisinha!; Telesp informa, este telefone está ocupado, favor ligar mais tarde; Em Brasília, 19 horas…; Passa outra hora; Você é dizimista?; Este celular está fora da área de cobertura ou desligado; Você já fez a lição?; Isso é hora de chegar?; No momento não podemos atender: após o bip, deixe seu recado; Vou ver o que posso fazer; Este lugar está  guardado?; Não há vagas; Precisa tratar o canal; Qual sua renda familiar?; Amém, pessoal?; Em suaves prestações mensais; Quer entrar numa rifa?; Acabou o gás; Ligue para 0900…; Seu pneu tá no chão; Era tão bonzinho!; Meus pêsames; Já pra cama; Vou ter de arrancar; Vai faltar água; O leite derramou; Acabou a pilha; Tem gente!; O vôo foi cancelado; Me empresta uma grana?

Pregado no poste: “Plim, plim…”

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