Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Donos do tempo

Olhem, aposto que São Pedro nada decide sem falar com eles. Faça chuva ou faça sol; céu pedrento chuva ou vento; neve, garoa, granizo ou estio; calor ou frio, o que Deus mandar, lá está o dedo deles. Sei não, mas acho que eles devem saber se vai chover no dia do seu casamento ou no roçado do ‘Hermoge’, com dia e hora marcados. (Imagine! Onde já se viu caipira de nome Hermógenes?).

Mas é com eles que São Pedro se entende. São assim, ó, com o santo do tempo, primeiro Papa, porteiro do Céu, o homem da chave, padroeiro de dez entre dez fazendeiros, sitiantes ou chacareiros desse mundão de Deus, para proteger a colheita e o pão nosso de cada dia. O braço direito de Cristo – que sobre ele construiu sua Igreja – precisa conversar cm os cientistas Orivaldo Brunini e Ângelo Paes de Camargo, da seção de Climatologia aí do nosso Instituto Agronômico. Eles é que sabem o que passou e o que virá.

Está seco demais. Fotografias se enrolam em porta-retratos. Pendurado numa parede aqui de casa, um daqueles d’antanho tem meu avô e minha avó já virados um para o outro — parece que vão se beijar pela primeira vez. Gente já engole terra vermelha e cospe tijolo. Teresa Costa, terror dos medíocres, conta que nos banheiros da Rodoviária, espanador de pó substitui papel higiênico. “Não peça feijão no Rosário, porque não faz caldo; só vem tutu”, avisa.

Quer saber a umidade do ar, a temperatura máxima e mínima ou quanto choveu no dia em que desabou o Cine Rink? Ou quando o Guarani foi campeão brasileiro? (Olha, que foi antes de Cristo…). A temperatura exata, a secura e a previsão em Campinas agora? Não adianta ligar para Rosana Jatobá, Tathiana Martinelli nem psicografar seo Narciso Vernizzi. Quem sabe está no Agronômico.

Eles ensinam (ensinar e pesquisar é a vida deles): absurdo esse negócio de medir a umidade do ar em aeroportos, como fazem certos “sábios”. Ali é lugar de muito asfalto, muito deslocamento de ar quente das turbinas, muito vapor de querosene, tão perto da cidade. Não é à toa que dia desses, a medição de umidade do Agronômico dava 32,5% e a dos “sábios”, 19%.

O doutor Ângelo troca figurinha com São Pedro há décadas. Tanta experiência, até previu o Dilúvio. Noé e os animais confirmam e agradecem. Brunini, 35 anos de pesquisa, nem precisa daquela parafernália. Lambe o indicador, ergue para o Céu e prenuncia tudo. Lá em cima, São Pedro faz “ok” com o polegar.

Pregado no poste: “No ar, o canal do esgoto”

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