Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Doce ajuda

Todo mundo conhece alguém que tenha diabete. Ou é parente ou amigo de algum diabético. Quem, graças a Deus, está livre desse mal, mas tenta seguir-lhe o mesmo regime, garanto, viverá 200 anos. Pelo menos. Nada mais saudável do que a alimentação dos diabéticos – sem dúvida, um dos segredos da longevidade. Até que de vez em quando dá para tomar um chopinho (eu disse um!) ou um copo de vinho. Até um doce, claro! É só fazer tudo o que seu mestre mandar e jamais sair da linha. E aí a viagem será longa, no trilho da moderação. Mas se abusar da velocidade e da carga, a jornada será curta, como é para todos que exageram.

Que negócio é esse de falar em diabete justo num sábado que está pronto para ser regado a caipirinhas, feijoada, churrasco, pizza, cervejas, bolos, doces e refrigerantes? É que não dá para esperar até amanhã ou terça-feira. O assunto é sério. Recebi uma carta da senhora Cirlei Leonardi. Você a conhece? Então, por favor, mande lembranças a ela, porque eu não a conheço. Mas já admiro. É uma heroína que leva a sério o lema: “Quem não vive para servir não serve para viver”.

Hoje, quando você mergulhar nos prazeres da mesa, pense que oito em cada cem campineiros não podem fazer o mesmo e — atenção! perigo! — metade deles nem sabe que está arriscando a vida ao tomar um inocente copo de coca ou guaraná, para enganar esse calor. A diabete, o diabete ou diabetes (o dicionário diz que é comum aos dois gêneros; talvez, por isso, ameace eles e elas…) age em silêncio. De repente, um mal-estar terrível, o corpo começa a exalar um aroma de maçã e se bobear, adeus.

Dona Cirlei está na Associação dos Diabéticos de Campinas e Região, na bela e difícil missão de prolongar, de forma saudável e tranqüila, a vida desses doentes. Como sempre, não há apoio, não há recursos, não há atenção, não há boa vontade nem interesse.

Como o problema não está dentro de casa, “dane-se o mundo”. Assim pensam nossos governantes. Existe um que até “lava as mãos” para a violência que mata os cidadãos da cidade que ele, vá lá, administra. A Associação dos Diabéticos existe numa sala vazia de cinco por quatro, doada por um empresário, onde o único móvel é uma geladeira, dada pela Casas Bahia, para guardar medicamentos. Isso é pouco. Quase nada, mas é um começo.

Vamos ajudar essa entidade? Eles querem amparar diabéticos sem recursos, dar orientação psicológica, informar sobre a doença, mostrar que o mundo não vai acabar, promover campanhas de esclarecimento e fazer testes gratuitos de diabetes na comunidade. O pessoal que ajuda a dona Cirlei quer salvar vidas, prevenir a doença e ajudar os doentes. E ali, felizmente, ninguém está pedindo o voto em troca. São todos dignos e sem segundas intenções, porque só têm uma intenção, primeira e única: ajudar. Se até as formigas ajudam, por que você não pode? Na roça, longe do palco iluminado dos grandes centros, o caboclo sabe que está “com açúcar no sangue” fazendo xixi na terra. Se as formigas chegarem, é hora de procurar o “dotô”.

Quem estiver disposto, é só ligar para 235.2846 e sentir a honra de falar com um grande ser humano, essa dona Cirlei. Nem sei se ela é diabética, mas, creia, os diabéticos não podem comer doce, mas estão entre as pessoas mais doces que existem…

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