Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Do baú do Fraju

Francisco João di Mase Galvão, de apelido Fraju, portador de memória de manada, volta com seu baú repleto de novidades de antigamente – é como a gente se deliciar com novidades numa feira de antiguidades, digna daquelas do seo Udine La Serra. Conta como era, Fraju:

“Voltávamos dos clubes — Dom Quixote, na Onze de Agosto, Cultura, na Irmã Serafina, Líbano, lá na Ferreira Penteado — às três, quatro da manhã, a pé, no meio da rua, aquela algazarra, e, que fome!, víamos os litros de leite (de garrafa e com tampa de metal) e os pães (agora chamam de ‘bengalas’) nas portas das casas. Apartamentos havia poucos. Às vezes, pegávamos a Padaria União, da Luzitana com Ferreira Penteado, abrindo. Cheiro bom! Mas o Café do Povo e o antigo Giovanetti ainda estavam abertos; no andar de cima do bar Ideal, havia lugar para se dançar. Esqueci-me do Remendo, também na Luzitana, entre Conceição e César Bierrenbach. Alcançávamos o largo, sua benção maestro Carlos Gomes!, o ‘Pesão’ já tinha fechado o salão de bilhar. Na esquina da Benjamim com Barão, a boate ‘El Cairo’: o cônego Geraldo Azevedo brigou tanto que conseguiu fechá-la. Assim, íamos todos para casa. O mais importante: sãos e salvos. Faça uma perigrinação desta hoje, neste horário, e veja o que acontece. Nem de carro blindado do velho BCCL com os canhões do Quinto G-Can na vanguarda.

E os cinemas? O ‘Voga’ tinha uma porta lateral que eles abriam em noites muito quentes e a gente aproveitava para fumar e assistir ao filme lá de fora. O cine Rádio (depois Brasília, Bristol, hoje ‘igreja’) que passava filmes de Durango Kid, Roy Rogers, Capitão Marvel… O ‘Carlos Gomes’ e suas famosas matinês de dois filmes, fora a ‘Gazetinha’, das manhãs de domingo, desenho animado, o Gordo e o Magro, de graça. O ‘Ouro Verde’, que maravilha de cinema!, das liras enfeitadas com café, nas paredes, onde ficavam as lâmpadas. A ‘avant première’ foi ‘Manto Sagrado’.

E o cine São Jorge, no São Bernardo? Você pegava as cadeiras para levar onde quisesse — elas nâo eram fixas no chão! O apelido deste cinema era ‘pulgueiro’. Havia o Santa Maria, na Regente Feijó. O Rex e Casablanca, os dois na Vila. O São José, no Taquaral. Belos tempos de verdadeira cultura. Sem Ibope. Não precisavam jogar a cultura no lixo, como fazem as emissoras de TV para pegar o primeiro lugar nessa pesquisa.  Também não havia pseudo-jornalistas esportivos que fazem merchandising de qualquer coisa, principalmente de bebidas alcoólicas em programas esportivos, vendendo sua alma ao Diabo.

Dos bares, havia um, o Bavária, na frente do Ouro Verde. As cadeiras, ou melhor, poltronas, eram também verdes — avançado para a época. E o Armorial, na General Osório. Contam que o dono deste bar, ao perceber que havia alguém querendo ‘flertar’ com outro alguém acompanhado(a), ele se postava no meio dos dois e puxava uma conversa qualquer para amainar a situação. Isto é verdade, seo Moacyr!

Pregado no poste: “Bar do Alo: dos bares, o melhor!”

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