Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Disque-bobagem

Agora é moda. Querem saber tudo da vida da gente. Vai comprar caixa de fósforo na esquina? Então responda a este questionário: cor preferida; número do sapato, do telefone, da camisa, das calças, da cueca e do sutiã; nome do cônjuge; endereço da sogra; cor dos cabelos da prima. Brahma ou Antárctica? Adriane Galisteu, Luana Piovani ou Letícia Spiller? Omo ou Ariel? Veja, Época ou Isto é? Wal Mart ou Carrefour? Ponte ou Guarani? Loiras, ruivas, morenas ou mulatas? Tênis, sapato ou “paragata”?

Exagero? Um amigo foi comprar um telefone da companhia telefônica aqui de Ribeirão Preto, a Ceterp. Voltou chutando as paredes. Tudo o que ele queria era uma linha digital, porque o provedor da Internet disse que a linha analógica dele não serve. Como bom caipira de Presidente Prudente, nunca precisou dessas modernagens para viver. Ainda mais essa nova “ana”. “Coisa de louco! Já tenho quatro filhas — Ana Maria, Ana Lúcia, Ana Cláudia e Ana Elisa – e agora aparece uma tal de Ana Lógica? E eu com isso? Nem tenho filha com esse nome. Fosse um menino de nome Ana Cleto, vá lá, poderia até adotar.”.

Veja só o que a Ceterp quis saber dele, para vender o telefone: “O que o sr. andou lendo nos últimos três meses — revista de fofocas (!), de decoração, de negócios… Que músicas costuma ouvir no rádio – pagode, sertanejo, jazz, axé, pop, funk… Nos dias úteis, passa quantos minutos (!) ouvindo rádio, lendo ou vendo TV?. E nos fins de semana? Quantas vezes por mês compra em shopping, quitandas, mercearias e supermercados?”.

Ficou um hora na fila e teve de engolir um formulário com 21 perguntas – só bobagem. “Porque quem quer um telefone precisa dizer se lê revista de fofocas?”. E um diretor da Ceterp ainda me disse, quando parei de rir na cara dele: “Esse questionário tem base científica e é adotado até pelo ‘15’ e pelo ‘21’!”. Meu amigo entregou o formulário com apenas uma resposta, em vermelho, bem grande: “Sou analfabeto!”. O telefone veio do mesmo jeito.

Pregado no poste: “Um alecrim para o Largo da Catedral!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *