Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Deus te ouça!

Campinas tem um jornalista – o Renato Otranto e o Marco Antônio Quintas sabem o nome dele – capaz de aprontar de tudo para brincar com as pessoas. Adorava ficar na janela do escritório, aí na Regente Feijó, ao lado do “Palácio da Justiça”, a jogar na rua moedas de ‘quinhentão’ e notas de dois ‘mirréis’ (aquelas com o Duque de Caxias). Mais divertido: punha no jornal que naquele dia choveria de dinheiro no Centro. E não é que chovia?

Quando brigava com alguém, ia à funerária de um amigo e mandava entregar um caixão na casa do desafeto. “Boa noite! Vim trazer o caixão para o velório do seo fulano… Como não morreu, caramba!?” Puts! Já pensou?

Tempos das funerárias Serra, Davi, Pax Domini, Guilherme, Turnieux, e da guerra entre os papa-defuntos, pagos para avisar que alguém tinha ido. O Carlito Milanês, dono da embaixada de Campinas, a Pousada Marambaia, no Arraial d’Ajuda, estranha até hoje a conversa de duas comadres numa padaria. Conte Carlito:

“D. Izolina instalou uma funerária ali ao lado do… deixe pra lá:

— E aí D. Izolina, como vai a funerária?

— Ah Maria, graças a Deus, muito bem: cinco, esta noite; três, ontem…

— Oh d. Izolina, que bom! Deus ajude que cada dia tenha mais

— Deus te ouça!

E quando morreu a Clara Nunes?

— Oh Cida! Viu ontem a reportagem do enterro da Clara Nunes?

— Vi não, Ruth, tava tão ocupada!

— Ah Cida, não perca! Hoje o canal 7 passa os melhores momentos!

Minha tia faleceu de repente na gloriosa Sousas. Eu e meu filho Alexandre rumamos para o arraial. Já era tarde da noite. Ela ainda estava deitada no sofá e os parentes em volta, lamentando.

Fomos cumprimentando os presentes, eu de um lado e Alexandre de outro. Como ele não conhecia bem os parentes, estendia a mão para todos.
E não teve dúvida: quando passou pela falecida, sapecou: ‘E a senhora deitadinha aí, descansando um pouco, como vai?’ Meu tio se encarregou da resposta: ‘Pois é, meu sobrinho, ela descansou pra sempre!’

Imagine o mico? E tem a história do Tetê, que no velório
da esposa, ao receber os pêsames, agradecia aos mais chegados dizendo baixinho ao pé da orelha: ‘O que é isso!? Essa sorte não é para qualquer um…’”

Pregado no poste: “Se votar ‘sim’, o governo vai assumir os homicídios?”

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