Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Desespero

Acontece em Campinas um drama que deve ser comum a muitas pessoas, muitas famílias, que, por abnegação, se esquecem de que a humanidade é desigual e a justiça nunca é a dos homens. Recebi mensagem de mãe desesperada, senhora de peregrinas virtudes, família campineira de que todos os campineiros de bem, como ela, conhecem ou ouviram falar – sempre bem. Sua missão, além de preservar íntegro o caráter da família, é cuidar, há quase meio século, e com resignação, de uma filha excepcional que exige cuidados de um bebê.

Certas adversidades parecem sempre se abater sobre quem não merece. Mas essas pessoas são as que têm fibra e força para suportar. Cabe a nós aprender com elas a lição de garra que seu sofrimento nos transmite:

“Senhor Moacyr Castro,

Eu nem sei se você se lembra de mim! Sou mãe daquela filha excepcional sobre quem escrevi aquela carta e você publicou: ‘Fraternos Somos’. Você se lembra? Pois bem, gostaria de saber se você tem meios de me ajudar. Moacyr, vou tomar a liberdade de abusar da sua compreensão. Vou contar mais ou menos o que se passa comigo. Não leve a mal, por favor.

Fui fiadora de minhas filhas, na locação de uma loja de shopping. Mas elas venderam a loja. O casal que comprou não transferiu nenhum documento para o shopping nem pagou nada para elas. E nem ao shopping. A dívida deles está toda no nome das minhas filhas, das quais sou fiadora. Estamos com advogado. Os processos estão correndo e ninguém liga para nada.

Estou desesperada, não sei o que devo fazer. Só para você saber, a dívida está a cada dia mais aumentando. Sem mais, agradeço muito. Um abraço.”.

E agora? Como pode um negócio entre duas pessoas só se realizar com a garantia de outra? Se alguém vai negociar com quem precisa de fiador, é melhor não negociar. Não me esqueço de uma senhora cujo marido, com quem morava numa bela casa no fim da linha do bonde 4, era viciado em jogo e briga de galo. Jogava financiado por um terceiro, que, na verdade estava de olho naquela casa. O homem morreu do coração. E a viúva perdeu tudo para honrar a dívida do marido. Foi uma das primeiras moradoras do edifício “Joga Chave”, numa quitinete menor do que o banheiro de sua suíte no Taquaral.

Dela, a justiça só não tomou a máquina de costura, porque a sentença argumentou que a peça seria “um instrumento para seu sustento”.

Pregado no poste: “Lulla, começou o mês de agosto!”

01/08/2006

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *