Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2000Crônicas

Desculpe pela nossa falha

De novo. A coleção de gafes cometidas involuntariamente por nós, jornalistas, cresceu. E aqui vão mais algumas pérolas do nosso “cancioneiro” noticioso.

Na hora de fechar a edição vespertina do extinto Diário da Noite, o chefe de reportagem ligou para o repórter de plantão no aeroporto de Congonhas, reclamando da falta de notícias naquela dia. E ficou sabendo o motivo: “Não aconteceu nada aqui hoje, chefe. Logo cedo, um Viscount da Vasp embicou na pista, quase pegou fogo e os pousos de decolagens foram suspensos o dia todo. Por isso, ninguém desembarcou em Congonhas hoje…”. Quando acabou de se explicar, a carta de demissão dele já estava pronta.

Em plena ditadura, entre o assassinato do jornalista Vlado Herzog e do operário Manoel Fiel Filho pelo Exército, alunos da USP desafiaram e marcaram uma eleição para o clandestino DCE-Livre (Diretório Central de Estudantes). A repórter encarregada de cobrir a apuração ligou para a redação do jornal às oito da noite e pegou o editor esbaforido com o sumiço dela. “Não se preocupe – disse a “jornalista” –, porque não houve apuração. Roubaram as urnas. Por isso, não fiz a matéria.”.

O editor de Esportes mandou o repórter novato ligar no “Moysés Lucarelli” para saber o horário do treino da Ponte Preta. A conversa começou assim: “Alô. Eu queria falar com o Moysés Lucarelli…”. E terminou assim: “Nossa! Bateram o telefone na minha cara!”.

Jacqueline e Aristóteles Onassis, Porfírio Rubirosa mais um grupo seleto do “jet set” internacional fizeram escala em Viracopos no jato do armador grego, rumo a Buenos Aires. Sabendo da história, o chefe de redação do jornal Última Hora, em São Paulo, perguntou ao plantonista: “Não aconteceu nada por aí hoje?” Ele respondeu: “Nada. Só uma caravana para a Argentina”. O repórter ouviu: “Caravana, sua besta, é aquilo que a sua mãe organiza para a Praia Grande!”.

O general Geisel visitou Bauru. O correspondente mandou uma reportagem bem burocrática, nada de extraordinário. À noite, o Jornal Nacional mostrou que uma bomba havia explodido numa boca-de-lobo, na avenida onde a comitiva presidencial acabara de passar. Explicação do dito cujo: “Não pus nada na minha matéria, porque foi só uma bomba. Mas ninguém ficou ferido…”.

Aqui em Ribeirão, quase todo dia alguém ligava para um jornal para falar com um repórter e brincava: “Aqui é o prefeito Palocci.” Trote. Um dia, esse repórter pegou o telefone e disparou: “Fala, Palocci picareta. Prefeito safado, sem-vergonha!”. Naquele dia, era o Palocci.

Esta aconteceu domingo passado. Ruy Barbosa estreou como centro-avante do Botafogo e fez dois gols. No vestiário, o repórter falou: “Agora, vamos conversar com a estrela do jogo, cujo nome homenageia um grande estadista brasileiro, o ‘Águia de Haia’, que tem esse apelido porque foi ele quem presidiu a sessão da ONU que criou o Estado de Israel, discursando em Inglês!”. O próprio jogador corrigiu tudo: “Desculpe. Meu nome é só Ruy, não tem nada de Barbosa. Quem presidiu a sessão da ONU foi o então chanceler Oswaldo Aranha e quando isso aconteceu, Ruy Barbosa estava morto havia 24 anos. ‘Águia de Haia’ ele foi chamado na Holanda, em 1907, quando fez a conferência na Liga das Nações, em defesa da igualdade entre os países, fossem grandes ou pequenos.”. O comentarista, professor e escritor, atravessou a entrevista: “Deixa, que eu converso com ele.”.

Pregado no poste: “Já pagou sua taxa de elevador, seo Pagano?”

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