Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Descendo!

Fico imaginando seo Pagano de terninho cinza-ratinho, camisa azul-anil, gravata preta de náilon e quépe de ascensorista, igual àqueles de motorista de ônibus, cobrando a taxa pelo uso de elevadores em Campinas. Agora, taxa de uso de elevador e de escada rolante, seo Pagano? Soube que a notícia que saiu no Correio já foi publicada até em revistinha de piadas. O senhor ainda não leu? Nem eu.
Mas me conte, querido prefeito: tem de pagar para subir e descer ou só para subir? Se quiser descer de escada, para economizar, tem de pagar, também? Se for só para subir, paga meia? Estudantes, idosos, menores de dez anos, deficientes físicos e desempregados terão desconto? Por exemplo: num prédio de dez andares, se eu for até o terceiro, pago menos? O ascensorista pode aceitar gorjeta do passageiro?
Para facilitar a vida dos usuários, o senhor vai implantar o vale-transporte de elevador e de escada rolante? Eles vão circular dia e noite? Se o serviço não for bom, o senhor vai permitir a entrada de “peruas elevatórias” nos prédios da cidade? Quem vai administrar o valor dessa taxa: a Emdec, a Transurc ou a “Transprédio”?
O guichê vai ficar na porta dos edifícios? Os elevadores terão catracas ou serão acionados por cartões magnéticos? Diz aí, seo Pagano: os elevadores panorâmicos serão mais caros? Como? Terão lanchonete, american bar e toalete a bordo? O senhor já pensou em mandar instalar self service e elevadores de primeira e de segunda classe? Eles terão freio a disco ou ABS? E se for equipado com airbag, ar condicionado e injeção eletrônica? Elevador de serviço pagará taxa ou frete? E todos pagarão excesso de bagagem, IPVA e seguro obrigatório?
Com tamanha fúria arrecadadora (afinal, se o senhor atrasar o pagamento dos vereadores, eles entram em greve; já pensou que tragédia?), o senhor não pensou em instalar postos de pedágio nos edifícios da cidade? Não é uma boa idéia? Quer outra sugestão para engordar o caixa da Prefeitura? Eu disse caixa, nem caixinha nem caixa-dois: cobre da população o direito de andar dentro de casa, de respirar na rua, de cumprimentar algum conhecido, de almoçar e jantar, de se sentar num banco de jardim, de namorar, conversar. Que tal pagarmos uma taxa para acordar e outra para dormir? Com travesseiro, sai mais caro.
Como o senhor sabe, namorados adoram “passear” de elevador. Haverá distribuição de camisinhas na entrada? Tem de ser na entrada, porque na saída não adianta mais.
Para um prefeito que exige pagamento de taxa até de quem vai ficar morto, não há exagero algum. Já imaginou o moribundo falando para a morte: “Passe outro dia, hoje estão sem dinheiro para pagar a taxa do seo Pagano.”? Ia me esquecendo: para combinar com o perfil da administração, o senhor pode instituir uma taxa para o cidadão ir ao banheiro… Mas se ele fizer nas calças, o preço é a combinar.
Porque o senhor inventou essa taxa, seo Pagano? Ficou preso em algum elevador quando estava apertado para fazer xixi ou tropeçou na escada rolante, carregado de pacotes? E se vinga na gente?
Qualquer dia, o senhor estará num elevador daqueles lotados de gente que acabou de sair de uma bela feijoada. Quero vê-lo esbravejando: “Quem fez? Quem fez? Foi você? Quem fez paga mais caro!”
Pregado no poste: “Dona Marília, segure o homem, pelo amor de Campinas!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *