Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Dê motivos

Não consegui aprender a discriminar ou ridicularizar alguém baseado na nacionalidade. Motivos não faltam neste País que mascara seu racismo, seu preconceito, sua irreverência e sua intolerância – como os outros. Todo mundo já ouviu, pelo menos uma vez, “Alemão batata, come queijo com barata!”, “Turco pão duro!”, “Judeu unha de fome!”, “Italiano carcamano!”, “Português burro”, “Espanhol mula empacada!”, “Japonês barbeiro!”, “Francês não toma banho”. As vítimas da hora são argentinos. Até mapa da América do Sul trocando o nome dela pelo do Afeganistão mandaram para o Pentágono, já que (isso é verdade), os americanos trocam Brasília por Buenos Aires.
A Elisabeth Fernandes (não sei quem é esta mensageira misteriosa) me mandou alguns motivos que marcam com ironia, às vezes maldade, peculiaridades dos povos e raças deste mundão. Vamos ver só as ironias? Motivos para ser:
Americano – Não ter de estudar no Yázigi, CCAA ou Fisk para navegar na Internet. Ou assistir novelas, como brasileiro, mas chamá-las de ‘soap opera’. Tomar — e gostar — de Coca-Cola.
Alemão – Achar joelho de porco uma delícia (Português prefere joelho de mulata?). Ou não ter de aprender alemão como segunda língua.
Francês – Conseguir ser mal-humorado, mesmo morando na cidade mais linda do mundo. Ouvir a namorada dizer ‘je t’aime, mon amour’. Ou render-se logo na guerra, para ganhar tempo.
Sueco – Liberdade sexual com duas loiras tomando Absolut em um Volvo. Ser súdito da rainha Sílvia, que os brasileiros chamam de brasileira.
Norueguês – Não ter de importar bacalhau. Não precisar tingir o cabelo para ser loira. Ou viver na escuridão metade do ano e debaixo do buraco na camada de ozônio na outra metade.
Inglês – Rir das piadas do mister Bean. Ou fazer a melhor batata cozida do mundo.
Escocês – Beber uísque nacional e não ter dor de cabeça. Usar saiotes coloridos e se sentir o maior machão com isso.
Italiano — Poder dizer ‘amore mio’ sem ter trabalhado na Globo. Mexer com todas as mulheres na rua, mesmo que elas não lhe dêem bola. Ou chamar o próprio carro de ‘la mia macchina’, mesmo que seja uma lata velha.
Português – Agradecer a d. Pedro I por proclamar a independência do Brasil.
Brasileiro — Ter a mesma nacionalidade de Deus.
Argentino – Ser vizinho do Brasil…

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