Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

Crônicas

De cartão de visita a cartão vermelho?

Caminhar ou correr no Parque Curupira é um perigo! Principalmente quando o sol se vai. O cenário se desmancha, a paisagem escurece e à noite, ali, todos os gatos, digo, todas as pessoas são pardas. Sete das dezoito luminárias da pista inferior estavam apagadas na noite de ontem – domingo já estavam assim. Dos holofotes que ajudam a iluminar um pouco os caminhos, três estão desligados faz meses. “A Prefeitura disse para nós que ela não tem caminhão-guincho, daqueles ‘Munck’, para consertar”, disse um funcionário. Talvez ela também não tenha um tatu, para trocar as lâmpadas do chão…”.

Lá no fundo, aonde a pista margeia um lago que vai até a pedreira que desbarranca, vez ou outra, o chão afunda lentamente, desde 19 de novembro de 2000, quando o prefeito Roberto Jábali entregou o Curupira aos ribeirão-pretanos. Quem passa correndo pela primeira vez pode cair, torcer o pé ou, se for à noite e as lâmpadas continuarem queimadas, quebrar o pé ou a perna.

Nestes tempos de estio, é impossível cuidar da saúde num recanto tão saudável da cidade. Os dois bebedouros de água da pista superior, junto aos chuveirões, também estão “em manutenção”, como avisam os recados impressos em papel de formulário. É um ‘calvário’ aquele ‘morro’ do parque, porque os bebedouros ficam bem no alto das duas subidas mais íngremes, que levam ao mirante – chegar ali e encontrar o aviso de que falta aquela água geladinha de sempre ainda vai provocar desmaio em alguém mais suscetível.

E os bebedouros junto à entrada? Eram dois até 10 de dezembro, quando o folclórico indiozinho Curupira viu seu nome ser trocado pelo do ex-prefeito que nos deu o parque a partir de uma idéia e empenho do ex-vereador Morandini. Naquele dia, eram três bebedouros ali na entrada – um, menor e mais baixinho, foi instalado para servir às crianças e aos deficientes físicos. Mas este, no dia seguinte, não estava mais lá. Durou enquanto durou a festa da mudança.

Por falar em água, as cachoeiras artificiais estão cada vez menos vigorosas. Perdem a exuberância e o parque perde o frescor. A da entrada da pista inferior, no lado direito, secou faz tempo. O lago, há muito não renovado por água nova, já apodrece, e seus peixes, a qualquer hora, morrerão… Até de sede.

Por todos os caminhos, as lixeiras estão cheias. Mau sinal: nem sempre há gente suficiente para recolher os rejeitos; bom sinal: as pessoas já estão se habituando a jogar o lixo no lixo. Verdade. Até que as trilhas estão limpinhas.  Mas vândalos já quebraram muitas lixeiras; de outras arrancaram o nome do patrocinador – ainda pagam à Prefeitura pelo direito de uso? Há (poucos) bancos quebrados, mas, inevitável, todos têm seus encostos de madeira transformados em ‘banners’, ora de juras de amor ora de desilusões, feridos a canivete. Nomes deles e delas, às vezes, estão riscados – arrependimento? As paredes dos abrigos dos bebedouros e chuveirões do ‘calvário’ também já não têm mais espaço para tantas manifestações amorosas esculpidas no reboco. Pois que se aumentem as paredes e o número de bebedouros e de chuveirões! Ainda que em nome do romantismo… Caso contrário, os troncos das árvores pagarão pela omissão. Falta pouco.

Há dois heróis vestidos de guardas civis municipais para cada jornada de oito horas — sozinhos para cuidar de 150 mil metros quadrados. Quando vem a chuva forte, o abrigo é uma gaiola de metal com grade e base enferrujadas, bem na entrada, para comiseração de quem chega. Se dá temporal, “o único lugar seguro para todo mundo é o banheiro”, alerta um deles. Banheiros (quase) sempre limpinhos, diga-se. Com tanta gente correndo… A mão divina cuida do resto, porque não há ambulância nem desfibrilador no Curupira. Mas graças a Deus, nunca aconteceu nada de grave. Cala-te boca!

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