Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Dá-lhe, Zirbo!

Dois azarões: o cavalo e o jóquei. O cavalo, legítimo pangaré enjeitado, não sei de onde veio. O cavaleiro é de Campinas. Juntos, surpreenderam e ganharam o Grande Prêmio Brasil, a maior prova do turfe nacional, no hipódromo da Gávea, Rio de Janeiro.
O nome do bicho é estranho: Aiortrophe. O do jóquei, também: Zirbo. Zirbo Paulielo Júnior. Conhece? O vencedor, que brindou com R$ 40 cada R$ 1 apostado nele, é um refugo. Foi a leilão certa vez e o comprador, disposto a pagar só R$ 750 em doze suaves prestações mensais, desistiu. Na segunda tentativa, seu dono, Ricardo Vidigal, teve de tirá-lo da lista – ficara doente. Não sei qual a linhagem desse cavalo, só sei que é um fim de linha.
Zirbo, não. É neto de jóquei, filho de treinador e tem um cavalo. Todos chamados Zirbo. Inclusive o pai e o avô… Ganha 10% do prêmio do animal que cavalga nos hipódromos da vida. Como só vai de azarão, leva quase nada. Tem um Fusca 84, vive nesta cidade, em casa alugada, com a mulher Isabel e os filhos Pamela, John e Lennon, enquanto Paul e Ringo não pintarem…
Nosso herói monta desde os sete anos, mas nunca cruzou o disco final. Aiortrophe também não. O animal é do plantel do quase extinto haras Malurica. O jóquei passou um ano da vida num hospital. Num treino, veja você, num treino, bateu contra a cerca e se arrebentou: perdeu baço, metade do estômago, metade do intestino e o pulmão furou. Quando voltou à pista, fraturou o tornozelo.
Juntos, Zirbo e Aiortrophe tinham tudo para dar em nada. Quando o jóquei nasceu, há 29 anos, a terra em que ele mora hoje perdia seu hipódromo, no bairro do Bonfim, lugar agora ocupado por um viaduto, pela fábrica de doces Boa Viagem, por dependências do Sesc e pelo depósito de carros recolhidos pelo Detran. As corridas foram parar no hipódromo da Boa Vista, mas duraram pouco. Muito longe. Virou ‘spa’ do Jóquei Clube de São Paulo, cujo morador mais ilustre é um cavalo de nome Quari Bravo, espécie de “Ronaldinho do turfe”. É o que conta o Renato Otranto, único jornalista que conseguiu entrevistar esse “craque”. É! O Renato entrevistou o cavalo! Até ficaram amigos. Ele revela: “Esse Ronaldinho só poderá ter sua ‘Suzana’ quando parar de correr. São ordens do dono, o empresário Benjamin Steinbruch, também dono da Vale do Rio Doce…”.
Quando o hipódromo ficava no Bonfim, o turfe tinha mais charme. As apostas aconteciam no Clube Campineiro, na Rua do Sacramento, sob as barbas, digo, bigode, do maestro Carlos Gomes. Os páreos eram transmitidos por Jorge Cury e Fuad Arida, na Rádio Cultura, com palpites quase nunca certeiros do Geraldo Sussoline e do Vanderlei Doná, na rádio, e do Antônio Salomão, nosso “Salompas”, aqui no Correio Popular.
Nunca entrei no jóquei. Mas vi muita gente sair de lá para a miséria. Agora, tenho um palpite: o Zirbo tem tudo para sair da vida difícil e entrar na sorte. O valor do Aiortrophe, que ele pilotou, já saltou de R$ 9 mil para R$ 500 mil. Mas Zirbo ganhou só R$ 13 mil.
Pregado no poste: “A turma dos direitos humanos vai protestar contra o assassinato da garota Thaís?

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