Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Da latinha…

Só no Brasil, onde vive a fina flor da malandragem universal e ainda há brasileiros que se orgulham disso. Aqui, molecagem é marca registrada, usa colarinho branco ou botina amarela. Tem até mandato. E não é de hoje. No início do século, empenhando até a alma para combater a peste bubônica e arriscando a vida contra a fúria da ignorância popular, o médico-sanitarista Oswaldo Cruz dava trinta tostões a quem entregasse um rato morto ao serviço de vigilância sanitária, que ele instalou no Rio de Janeiro. Tudo para reduzir a população de roedores transmissores da doença que ameaçava a população de cariocas. Não é que apareceu gente criando ratos para lucrar com a peste? Um povo mais nocivo do que os ratos.
Um caráter semelhante ao dessa besta humana que matava pacientes do hospital Salgado Filho, no Rio de Janeiro, para negociar a morte deles com empresas funerárias – de R$ R$ 80,00 a R$ 100,00 por cadáver internado e até R$ 1 mil por vítima do trânsito. Não são só Slobodam, Hussein ou a Otan que cometem genocídio.
O mesmo perfil safado de ‘trabalhadores’ que compram atestados médicos falsos para ‘justificar’ a falta ao trabalho. Está interessado? Custa R$ 5,00 cada um, na Praça da Sé, ali em São Paulo. Aqui em Campinas também deve ter. Às vezes, não só o atestado é falso. Falso, também, é o médico que se propõe a vendê-lo. Para denunciar um desses pilantras, certa vez, mandei comprar um monte, todos em nome dos correspondentes do Estadão pelo mundo. O digníssimo ‘doutor’ dispensou do trabalho jornalistas que ele nunca viu. Está solto.
Para escapar do serviço militar ou passar alguns dias em casa, também é fácil. Existe uma fruta silvestre, a maroquinha, que é tiro e queda. Tome um copo de suco da dita cuja e, em seguida, procure um médico, fingindo falta de ar, dores no peito e nas costas. Tussa um pouco, que ajuda na encenação. O doutor mandará você tirar chapa dos pulmões. A tal maroquinha “mascara” buracos no pulmão. Quando você voltar com a chapa, o médico, assustado, lhe dará pelo menos 15 dias de repouso. Vai entupi-lo de remédios e pedirá que você volte depois. Nem compre os remédios, mas diga a ele que tomou. No retorno, não haverá mais mancha alguma nem dores no tórax. E o coitado ainda pensará que curou você.
(Num país do Norte da África, gajos costumam cortar o dedo indicador, o do gatilho, para escapar do exército; depois, descobrem que escaparam porque têm pés chatos…)
O mais novo golpe acontece na favela do Morumbi, também na Capital de todos os paulistas, onde o que menos se vê é paulistano. Veja você! Lá, até isso é vendido. Para fazer exame de admissão ao trabalho, principalmente na construção civil, é comum a exigência do exame de fezes.
Não se preocupe. Já existe na praça a solução para essa desagradável missão. Não cheira nem fede. Na favela do Morumbi, estão vendendo latinhas com fezes dentro, prontas para serem enviadas ao laboratório. O conteúdo, garantido pelos vendedores, é de primeira qualidade e sempre dá resultado negativo, que atesta sua boa condição para trabalhar. Não requer prática nem tampouco habilidade. Custa só R$ 1,00 a latinha.
Pregado no poste: “Cada vereador custa para o povo R$ 1 milhão por ano!”

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