Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Cultura? Campinas tem

Quando ele nasceu, a cidade nem tinha iluminação pública, mas já brilhavam as luzes do seu Clube Semanal de Cultura Artística. Também nasciam nossas primeiras indústrias e, incrível na época, uma orquestra só de mulheres. Carlos Gomes tinha 21 anos e dava “canja” no piano daquela casa, dita “semanal” porque seus fundadores, Bento Quirino, Rafael Duarte e Custódio Manuel Alvez queriam um lugar para falar de arte, política e literatura uma vez por semana. Foi o primeiro ponto de badalação destas Campinas, visitado por Pedro II e governantes da província.

De sua primeira sede, na Regente Feijó, 1.455, saiu, em 1926, para ocupar outro lugar histórico da cidade, o solar do Visconde de Indaiatuba, onde ficou até 1959. Naquele solar, em 1878, … Vamos deixar o jornalista Eustáquio Gomes contar: “O próprio visconde mandou vir da Itália o primeiro telefone. E para exibir a maravilha, convidou os barões Geraldo de Rezende, de Ataliba e de Atibaia, Manoel Carlos Aranha, Francisco Glicério e Jorge Miranda. Não importa que entre eles haja republicanos. Para o visconde, a ciência está acima da política.”. A ciência como a cultura, caro Tatá. Cultura, do legendário Argeu Pires Neto e, entre outros idealistas, do Adelino Baldo, que o comanda agora. O mesmo Cultura que abriga em Campinas grandes artistas nacionais e estrangeiros que nos visitam, ali e na elegância da sede da Rua Irmã Serafina, onde existiu o cinema e teatro Coliseu.

Sob aquela sede da Barão, havia o Chalé (depois Café) do Povo e a sorveteria Sônia, da família D’Otaviano. O programa daquela juventude dourada, aos sábados, era a primeira sessão, das 7 e 30 às 9 e 30 da noite, no Voga, no Carlos Gomes ou no Ouro Verde, elas com papai e mamãe, e depois, o sarau. Os rapazes, nem todos sócios, ficavam em pé, na rua, flertando (como se dizia) as garotas na sacada. Tudo ao som do conjunto do maestro Julinho, lembra?, às vezes “ilustrado” pela voz do Rubinho Hossri.

Nos sábados de Aleluia, um gesto de educação que não se vê mais. De repente, silêncio no salão. Julinho descansava a batuta na estante e parava o baile. Todos na sacada, solenes e contritos, para a passagem da procissão rumo à Igreja do Carmo. Havia respeito. Respeito é cultura e cultura Campinas tinha. Mas o seu Clube Semanal ela ainda tem. Há 144 anos. Parabéns Cultura, pela cultura e pelo respeito dedicados à nossa terra.

Pregado no poste: “Em Campinas que era bom”.

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