Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Como acabar um namoro

O fanhoso namorava a bilheteira do Cine Brasília e o gago, a do Cine Windsor. Os dois era tímidos; as duas, espevitadas.

(Antes que me chamem de preconceituoso, aviso que os dois foram grandes amigos meus, que infelizmente já partiram, mas jamais me esqueço deles. E a dupla nunca foi motivo de brincadeiras de ninguém, porque impunha respeito pela conduta e generosidade. O gago até foi eleito orador da turma na faculdade de Direito. E se os que o escolheram tinham em mente a chacota, caíram do cavalo, porque ele deu um show na festa de formatura e, enquanto viveu, foi uma fera dos fóruns.)

O namoro deles com elas começou na mesma semana, depois da segunda sessão do filme “Cidade Ameaçada”, com Eva Wilma, no Brasília, e de “Cassino Royale”, com Cláudia Cardinale, no Windsor. Tinha tudo para dar certo, porque a extroversão das duas completava o recato dos dois. Mas o que atrapalhava era o horário de trabalho dos quatro. Enquanto eles estudavam à noite e davam duro no trabalho durante o dia, elas vendiam ingresso para a matinê e para as sessões noturnas. Pela manhã, elas é que estudavam, se bem me lembro, no Lencastre.

Eles não conseguiam nem ir com a namorada ao cinema… E naquele tempo, esse era o melhor, se não o único, programa para casaizinhos, digamos, bem-intencionados. A segunda sessão acabava sempre entre onze e meia e meia-noite. De domingo a domingo. Portanto, namorar onde? Quando? Há mais de trinta anos, depois da meia-noite era hora de moçoilas de boas famílias estarem em casa. Certo? Nem para uma coxinha com guaraná no bar Rosário dava tempo. O último ônibus para a Vila Marieta passava à meia-noite e dez, na frente do Foto Outsubo, na Glicério. Era uma correria. Elas moravam lá e eles, na Vila Nova. Os encontros duravam sempre três ou quatro quarteirões, um ou dois beijinhos.

Um dia, eles decidiram terminar com elas. O plano, típico dos tímidos, deu certo. Quando chegaram ao ponto do ônibus, elas entraram e eles saíram correndo.

Pregado no poste:  “Quem vota em político ladrão é cúmplice?”

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