Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Com um sorriso

A notícia é espantosa: “A lei estadual que proíbe os alunos de fumar nas escolas públicas e particulares de primeiro e segundo graus tem provocado debates e dividido a opinião de estudantes, representantes do movimento estudantil, diretores e professores”. Numa escola particular até convocaram uma reunião com coordenadores e professores. É inacreditável: “Convocamos o encontro para ver se chegamos a um consenso”, disse um coordenador.

Primeiro espanto: é preciso lei proibindo alunos de fumar na escola? Como não há lei, julgam que é permitido. O Brasil é uma festa da estupidez. Segundo espanto: a lei provoca debates e divide a opinião de estudantes, representantes do movimento estudantil e, acredite, até de professores e diretores! Terceiro espanto: convocaram uma reunião para ver se chegavam a um consenso.

Não há o que discutir, não há o que debater, não há consenso a se encontrar. Se o aluno rebelde quer fumar dentro da escola, puna-se o dito cujo. Se o pai se rebelar, aí já é caso de polícia. Já existe a lei, federal: é proibido fumar em lugares públicos. Não adianta legislar sobre o vício, com “termos de advertência” ou “termos de anuência”. Sinal de que a burocracia, a impunidade e a cômoda tolerância venceram a lei, a autoridade, a competência e a educação. E falam em “cidadania”.

Está difícil, todo mundo sabe. É preciso que a lei seja respeitada, mas se os próprios governantes não respeitam lei alguma… É preciso que professores e diretores, a autoridade coerente que anda em falta, também não fumem na escola. É preciso competência que, mais do que nunca, hoje rima com carência. É preciso educação, que falta desde o berço.

A lei pega em cheio a molecada em fase de afirmação. Transgredi-la faz parte da idade. É o desafio, para dizer que é “macho”. Também, para reforçar a sensação de que se é independente ou provar que “os adultos não sabem nada”.  No futuro, vão descobrir que não foram “machos”, independentes nem sabichões. Vão reconhecer que foram fracos, submissos às pressões e ignorantes. Porque faltaram berço, casa, pai, mãe e bons mestres, como se vê, porque estes falam em “debater a questão”. Mas aí será tarde.

Não havia lei nenhuma nem o tabagismo era combatido como agora. Mas a cada ano, no primeiro dia de aula, nossa querida orientadora educacional,  a professora Celina Duarte Martinho, percorria classe por classe do “Culto à Ciência” e, com o mesmo sorriso com que tratava todos os assuntos, até os mais delicados, entrava na sala e dizia para nós todos: “Gente, este ano, continua proibido fumar nas dependências do colégio. Quem for pego será suspenso; na segunda vez, expulso”. Claro que apesar da vigilância, muitos de nós desafiaram a ordem e levaram suspensão na escola e bons puxões de orelhas em casa. Como naquele tempo os professores podiam exercer sua autoridade sobre o aluno e os pais também puniam os filhos que aprontassem na escola, havia mais respeito e aprendia-se mais.

Com um sorriso e muita competência, dona Celina impôs o bom senso que falta hoje aos que ainda procuram o “consenso”. Se demorarem para encontrá-lo, será preciso uma lei para “advertir” e “anuir” que é proibido cheirar cocaína, fumar crack ou maconha e traficar drogas dentro da escola.

Mas infelizmente isso já acontece. E quem pensar em punir essa gente será chamado de “autoritário”.

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