Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Cine Pipoca

A pipoca que o Eli Lima varria do tapete do Cine Cairo, na Rua Formosa, em São Paulo, é hoje a maior fonte de renda dos cinemas dos Estados Unidos e será, logo, logo, no Brasil. De varredor de pipoca, faxineiro e lanterninha, o Eli virou dono de uma rede de cinemas. São doze, espalhados por cidades do interior de São Paulo, Minas e Rondônia. Esse mesmo Eli, o ex-varredor e lanterninha, que acaba de inaugurar um cinema para o Parque Industrial, o primeiro naquele bairro. Corajoso Eli.

Os cinemas desta nossa terra fugiram dos bairros e, depois, do Centro, fustigados pela especulação imobiliária, pela violência, pela televisão, pelas locadoras, e seduzidos ou profanados por igrejas caça-níqueis. O repórter Washington Carvalho Neves mostrou a saga do Eli no “Caderno C” e contou que Campinas tem agora 18 cinemas, 17 escondidos nos shoppings e um, o Paradiso, protegido na Galeria Barão Velha.

Até o mais novo cinema do Eli, o Center Ville, está no shopping do Parque Industrial. Mas quando Campinas era uma feliz cidade e podia ir ao cinema em suas tardes e noites sem medo de ser feliz, os cinemas marcavam a vida e os encontros no centro e nos bairros. Antes da “explosão cinematográfica”, havia quatro grandes “casas”: o Rink, que deixaram cair na Barão de Jaguara com Conceição; o Coliseu, em forma de circo, na Irmã Serafina, onde hoje está a sede do Cultura Artística; o República, na Costa Aguiar com Francisco Glicério, junto da Catedral e do Alecrim assassinado, e o São Carlos, todo chique, na César Bierrenbach com o Beco do Coronel Rodovalho (obrigado, d. Célia Farjallat!). Nossa mestra conta que, naquele tempo, as moçoilas iam aos cinemas sempre de chapéu ou boina e de luvas: noblesse oblige, “ordem das mamães!”

Depois, eles foram chegando. Só na Regente Feijó, que virou nossa “Cinelândia”, havia quatro: Rádio (depois Brasília, depois Bristol, depois, Deus me livre…), Regente, Windsor e Santa Maria (depois Alvorada). O Carlos Gomes, com 1.800 lugares, era o maior, na Campos Salles, com balcão imenso e sessão gazetinha nas manhãs de domingo. Bingo! Virou “igreja”. Na Avenida Anchieta, o Voga virou Jequitibá, que virou… bingo! Ainda bem que sobrou a pastelaria por testemunha. E na Rua da Conceição, o Ouro Verde, que lançou em Campinas o “cinemascope”, logo na estréia, em 1955. Agora, encolheu e é mais um cinema de shopping.

A festa foi para os bairros, quase todos abertos nos anos 50s: o Rex, no Bonfim; Real e Casablanca (que virou “teatro”), na Vila Industrial; São Jorge, no São Bernardo, e no Taquaral, o São José, de apelido “Zequinha”, inaugurado com “A volta ao mundo em 80 dias”, que levou o Oscar da Academia. O que existe no lugar deles, hoje? “Cine Saudade”?

Quem diria, caro Eli! A pipoca já representa 70% do faturamento das salas americanas. Nos seus cinemas também é assim? As voltas que o mundo dá: a pipoca que você varria no Cine Cairo é a salvação dos cinemas, que quase morrem, abatidos pela televisão. Se bem que a televisão, do jeito que está, nem pipoca levanta. Pum!!! Digo, “plim plim…”.

Pregado no poste: “Festa junina enche de políticos porque tem quadrilha?”

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