Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Chamem o Vicentão!

Com a vivência de nascido e criado no Bosque dos Jequitibás, nosso Vicentão Torquato diz que essa loba guará pode se esconder durante o dia no tubulão que dá para o lago e sai à noite para se alimentar. Ou se mandou para Americana, depois que viu no “Correio Popular” a fotografia daquele casal de tigres que teve três tigrinhos no zoológico de lá. Ela quer aparecer, afinal, o “São” Mário Autuori, legendário diretor do Zoológico da USP, de são Paulo, ensinava que fotografia de bicho na primeira página ajuda a vender mais jornais. “Embora viva no bosque, essa loba é um bichO”, enfatiza no “O” o Vicentão.

Assim como os tratadores, biólogos, astrólogos, zoólogos e zoófilos preocupados com a loba, Vicentão teme pela vida da coitada, porque todo bicho em cativeiro é mais frágil do que os irmãos da mata. “Só o gato vive em qualquer lugar, sem dar bola pra torcida. Também, é o único animal que sabe pular pra trás! Nunca vi! Quando eu jogava um gato do alto da jaula do ‘Nero’ para ele comer, o bichano pulava pra trás e fugia pelo vão da grade!” (Para quem não sabe, Nero foi uma onça popularíssima do bosque, criada de mamando a caducando pelo Vicentão. Ele jura que foram os gatos que ensinaram todos os truques de sobrevivência para as feras felinas, menos pular pra trás…)

Em tempos menos politicamente corretos, Vicentão, filho do chefe de cozinha do restaurante do Jequitibás e xerife do bosque, tinha autorização para sair todas as tardes armado com uma Winchester. Com ela, espantava os urubus do alto das árvores. Eles passavam a noite ali, mas descobriram que o chão em que eles defecam é como o lugar onde o goleiro pisa: não nasce nada: “O coco de urubu é ácido – o dos goleiros eu não sei.”. Quando acertava um deles, sem querer, levava para o Nero reforçar a “minestra” de carne de gato e cachorro. Um dia, o cardápio da onça foi enriquecido com carne de macaco: “As madames e babás que visitavam o bosque ficavam indignadas com aquele macacão que não podia ver rabo de saia e se excitava. Coitado. Eu fiquei com pena, mas as ‘pudicas senhôras’ me aplaudiram…”.

Infelizmente, aquele macaco não pode ser embalsamado pelo Max Vincer ou pelo Mário Lotufo, do museu de história natural do bosque, nem ter foto na última página, para onde iam as notícias policiais do Antônio Carlos de Júlio e do Danton Gomes. Ficou sem a cabeça.

Pregado no poste: “Ei gente boa do ‘Terra da Gente’, Vicentão fazendo receita não dá mais audiência?”

 

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