Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Cata-coió

Boa Páscoa.

Antes de fazer o trem-bala, é melhor meter uma bala nos fundilhos dos caudilhos palpiteiros, interessados em abrir estações ou desviar o traçado racional para seus currais e bordéis eleitorais. Sabe aqueles tiros de sal que davam nos moleques que invadiam quintais para roubar pitanga, carambola, jabuticaba, até laranja?

(Vixe! Sem querer ‘entreguei’ o cardápio do pomar que havia no quintal da casa do doutor Sylvino de Godoy… Ali ninguém tinha espingarda; mas ao lado, havia uma fábrica de tecidos elásticos, hoje, Igreja do Nazareno, com um irresistível depósito de parafina. Não sei quem era o atirador, mas aquilo ardia mais do que arnica em frieira.)

Entra século, sai século, e essa corja não muda. Cada um quer porque quer o trem passando na varanda do seu bangalô ou na tulha da sua fazenda. Foi essa mentalidade mesquinha que fez do traçado das nossas ferrovias (tirante a Paulista) caminhos de ratos pelo sertão. A Mojiana e seus ramais eram uma exibição da vaidade dos analfabetos incultos e endinheirados – melequentos hoje encastelados em câmaras municipais e federais, assembléias e senado.).

O próximo passo (para trás) é lutar para que cada estação leve o nome de um deles, até da sogra ou da mulher de outro. Já pensou? “Há um buraco na Maricota atrasando o trem. Genoveva está com um toco cru pegando fogo em cima da linha. Ninguém sabe quem deixou aquele toco na Genoveva. Filho de dona Hermeneuta quer colocar o nome da mãe até no mictório da estação que leva o nome dela, porque gosta da palavra mictório.” Duvida? Político brasileiro é bem pior do que isso. Basta ver o Jornal Nacional. Para aparecer não importa nem se você urina na mãe deles.

Imagine oito estações entre Rio de Janeiro e Campinas. Esse trem já nasce um cata-coió. Ainda bem que nossa Maria Teresa Costa, terror dos medíocres, joga água na fervura, faz evaporar os planos dos burros e cristaliza a grande verdade: afinal, se o trem está planejado para transportar 18 milhões de passageiros por ano entre Rio e Campinas, mas concentrará 11 milhões entre São José dos Campos e Campinas, para que serve o resto do traçado?  Levar farofeiro para Ipanema?

Pregado no poste: “É proibido fumar. Se não souber ler, pergunte ao Serra”

 

 

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