Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Caro Rogério,

Para você contar aos filhos da Clara e do Pedro:

Gilmar (Laércio); Lima (Carlos Alberto) Mauro (Ramos Delgado) e Dalmo (Geraldino. Rildo); Zito (Clodoaldo) e Calvet. Dorval (Jair da Costa), Mengálvio, Pagão (Coutinho), Pelé e Pepe (Abel, Edu). Jamais verão bailarinos mais talentosos do que esses. Nem Mickey Mouse renascendo a “Dança das Horas”, na “Fantasia” de Walt Disney.

Eu vi Pepe fazer gol olímpico de calcanhar (ou sonhei?); é que levei uma bolada do “Canhão da Vila” no ouvido esquerdo e acordei no vestiário, com o dr. Vasconcellos, médico do Guarani, me reanimando (Sabendo que fiquei surdo, seo Pepe ligou para dizer que é surdo do direito. Brincalhão, seo Pepe: “Vamos fazer negócio?”).

Todos viram Pelé fazer seis num 10 X 0 no Bugre; Coutinho driblar quatro na pequena área — diziam que esse falso gordo driblava cinco em cima de um lenço; Gilmar saltar para defender um chute de escanteio e seu calção cair — com aquela elegância só dele, arranjou-se sob o delírio da bugrada.

Eu vi numa noite de novembro de 1964, esses ‘deuses’ levarem de 5 X 1 do Guarani, jogando seu futebol magistral, dando banho de bola e nenhum ponta-pé nos jogadores do Guarani. Na mesma noite, Mengálvio, o embaixador, voou como ninguém e matou a bola no peito, lá em cima.

E como nós, bugrinos que lotávamos o Brinco, aplaudimos os adversários, dando graças ao show que nos ofereciam! Levando de 5 e roubando a festa! O zagueiro Ismael deu um soco na cara do juiz Anacleto Pietrobon e foi expulso. Vaiamos o juiz!

O jogo mais lindo da história de Campinas.

Na noite escura de um Brinco ainda mal iluminado, o número 1 e o número 0, pretos, dançavam juntos num fundo alvíssimo pra lá e pra cá. A mãe de uma bailarina, que ao meu lado assistia a tudo, deslumbrou:

— E quando ele vai apresentar A Morte do Cisne?

Quatro anos mais tarde, a rainha Elizabeth repetiu a pergunta ao Príncipe Phillipe, ao ver um Santos parecido tontear o Palmeiras em pleno Pacaembu. E o “Daily Tlegraph”, de Londres, descobriu na manchete: “Deus tem nome: Pelé!”

Quem pagou o pato foi o Botafogo, aqui de Ribeirão, num sábado, na Vila Belmiro. Levou de 11 X 0. O “deus” dos ingleses, que jamais celebrou na “Catedral” de Wembley, fez só oito.

Acabados os jogos dessa realeza em Campinas — e era sempre assim, como ritual religioso — os reis iam tomar lanche com o rei. O Rei da Lingüiça.

Pregado no poste: “Presidente da CNBB é contra a camisinha. Ele que não use, uai!”

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