Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Caro Edinho,

Antes de mais nada, bem-vindo a esta terra.

Você chega para ocupar uma posição mágica. Tirando “são” Dimas, a Ponte Preta sempre teve goleiros melhores do que o Guarani. Reconheço. O “arco” da “Macaca” é de sentinelas lendárias. A mais marcante, sem dúvida, os jovens não conhecem, mas já ouviram falar dele: Ciasca. Elegante, personalíssimo, impunha respeito. Foi responsável pelo aumento da presença feminina no “Majestoso”. Era um galã para elas, um ídolo para a torcida.

Logo depois, um xará meu (Moacyr) e duas figuras incríveis: Andu e Nino. Você não imagina como esse trio sofreu diante da exuberância do futebol do seu pai. Naquele tempo, Edinho, não se perguntava o resultado do jogo de qualquer time do mundo contra o Santos. A pergunta era outra: “Quantos gols o Pelé vai fazer, depois de marcar quatro?”. Infelizmente, depois da fase Andu e Nino, a “Macaca” caiu e tentou subir quando jogava outra dupla de arqueiros: Aníbal (importado do Palmeiras) e Fernandes (do XV de Piracicaba).

Uma pena, porque com a Ponte lá embaixo, nós só tínhamos chance de ver aqueles espetáculos uma vez por ano, justamente em cima do Guarani. O consolo era ver o balé Bolshoi no Teatro Municipal, exibindo o Lago dos Cisnes. Mas não era a mesma coisa. (Antes de continuar a historinha de seus antecessores, devo dizer a você que em novembro de 1964, o Bugre se vingou. Pergunte ao seu pai. Em pleno Brinco de Ouro, ganhamos de 5 X 1. Inesquecível. O Santos jogou maravilhosamente, como sempre, respeitando o adversário e dando um show para a torcida. Gilmar, Zito, Coutinho, Mengálvio, Ele, Pepe… Que elenco dos Céus! No fim, a torcida se esqueceu da goleada e foi à porta do vestiário saudar os “deuses” do grande Santos.)

A “Macaca” tentou voltar duas vezes, mas caiu diante da Prudentina e depois do seu primeiro time, a Portuguesa Santista. Mas veja outra coincidência. Em 1969, ela conseguiu. Ganhou da Francana no “tapetão” e voltou. Cilinho e o bugrino Zé Duarte armaram um grande time e no gol jogava o Wilson, que depois chegou a jogar com o seu pai no Santos. Acho que ele estreou no ano em que você nasceu.

Sabe quem era reserva do Wilson? Você conhece o Wilson, não? Era outro grande goleiro, o Waldir Peres, aquele mesmo, do São Paulo e da Seleção Brasileira, quando a Seleção jogava futebol e o técnico era o Telê. Depois, veio o Carlos, agora técnico do Campo Grande, lá do Rio de Janeiro. Esse você conhece. Outro arqueiro espetacular que a “Nega Véia” deu ao Brasil.

Deixei para o fim o Walter. Era reserva do Andu e do Nino. Ele ainda mora em Campinas. Peça ao Renato Otranto, repórter aqui do nosso Correio Popular, grande cabeceador, para apresentá-lo ao Walter. Numa noite de 1959, Edinho, a Ponte foi jogar com o Santos na Vila. O resultado foi a maior goleada dos últimos 40 anos do Campeonato Paulista: 12 X 1. O Walter não teve culpa; o time da Ponte era ruim demais. Um horror. O quê? Não, Edinho, seu pai nem jogou. Se não, seriam 22 X 1… Peça ao Renato, também, para levá-lo até a mãe do Pitico, um dos maiores marcadores que seu pai teve pela frente. Ela ficará feliz. E você também.

Sou bugrino, mas estou orgulhoso de vê-lo na Ponte. Não apenas por você ser filho do Rei, mas pelo grande “cara” que, todos dizem, você é. Só um conselho: evite jogar na estréia do Campeonato Brasileiro. A Ponte vai perder…

Beijo na Kelly, que eu conheci ainda bebê; lembranças à  dona Rose, que com o Pelé fez de um você um grande homem, e saudações ao Rei.

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