Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

Crônicas

Campinas a. C.

Dona Autoban acertou. Abrindo caminho de Campinas a Santa Bárbara, para esticar a Rodovia dos Bandeirantes, os operários encontram objetos estranhos, para quem vive nestes tempos modernosos: pedras pontiagudas ou lascadas de pontas triangulares e fragmentos de cerâmicas dos campineiros de antes de Cristo (quando o Guarani ganhou o Campeonato Brasileiro.).

Revelando uma consciência rara hoje em dia, a Autoban decidiu cuidar desses achados: convocou arqueólogos para acompanhar o desbravamento, recolheu as preciosidades no museu “Elizabeth Aytai”, em Monte-Mor, e classificou sete sítios arqueológicos em Santa Bárbara, Campinas e Limeira.

Como os campineiros viviam naquele tempo?

Se as pedras lascadas forem, mesmo, da Idade da Pedra Lascada, nossa história começa há 3,5 milhões de anos! Já pensou seo Pagano? Foi quando os campineiros começaram a conversar (“Inda bem que não existe perueiro nem camelô…”); a viver em pequenos grupos (“Quando tiver mais de um milhão, quantos vereadores eles terão de sustentar?”); indo pra lá e pra cá (“Vamos passear no Bosque ou no Chapadão? Aproveita, porque no futuro, em vez de passear, vai ficar todo mundo dentro de casa olhando para uma tal de televisão.”); catando frutos nas árvores, cortando raízes (“Quando fizerem o Mercadão ali, dizem que fruta e raiz só vai ter lá – e pra vender; prefeitos vão matar as árvores e um padre… Vê aquele Alecrim que tá nascendo ali? Coitado!”); a caçar e pescar (“Isso também vai acabar. Além de destruir as matas, vão envenenar os rios. O Atibaia, aí perto da sua caverna, tá marcado pra morrer!”); começaram a usar o fogo (“Essa invenção vai ser a desgraça para as matas, quer apostar?”); deixaram de habitar as copas das árvores para se abrigar em saliências das rochas ou buracos que abrem nelas e nos morros (“Esse jeito de morar vai mudar pouco; muita gente não terá casa pra viver e a saída será fazer barraco, porque não terá buraco pra todo mundo.”); e fazem as primeiras armas – arco e flecha, lança, arpão –, que lhes permitem viver no chão e abater os animais (“No futuro, terão armas muito mais fortes do que essas e usarão para matar o próximo – será uma Campinas diferente. Hoje, a gente precisa matar para ‘ser’, eles matarão para ‘ter’. Entendeu?”).

Pregado no poste: “Essa cidade tá de lascar!”

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