Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Caminhando e contando

         (Perdão pelo erro: o e-mail correto do Ademir Spis, que tem a lista de formandos de 1963 da Academia São Luiz é dema@mpc.com.br).

         Esquisita mesmo, era conversa de elevador. Até hoje, nunca termina, porque sempre um dos passageiros desce antes. “Sabe quem saiu com a mulher do fulano ontem? Depois eu conto!” E deixa frustrado todo mundo que queria saber quem saiu com a mulher do fulano ontem. O que estica é papo de comadres na porta aberta do dito cujo. Uma não entra, a outra não sai e todos a esmurrar as portas, à espera do “veículo mais seguro do mundo” (desastre com ônibus mata no máximo 40; com trem, uns 100; com avião, mais de 200; com elevador, quando acontece o pior, um ou dois…).

Aí em Campinas, na Rua Delfino Cintra, o edifício Boa Esperança, pertinho da Puccamp, construído nos anos 50s, começou rígido pra valer com essa história de elevador: “Menor de 14 anos a bordo, só acompanhado de um responsável”. Verdade! Vai fazer isso hoje!

E conversa em banheiro público? Quase sempre começa assim:

— Droga, por que não vi antes se tinha papel higiênico!? Hei, tem alguém aí?

— Tem, mas também não tem…

— O jeito é esperar alguém entrar e mandar buscar… Pior é se o cara vier com folha de jornal, porque, alisa, assa e arde!

A nova diversão é ouvir, mesmo sem querer, conversa do pessoal que faz caminhada. Principalmente à noite, quando todos os gatos são pardos e a conversa fica desinibida, porque não se vêem as caras.

— Você viu o novo negócio dos camelôs? Eles encomendam esse sutiã que vendem por telefone, na televisão… Isso! São de silicone e modelam os seios. Vende quem nem água…

— Vi! Lá no Rio de Janeiro, eles vendem o porta-seio e um cofrinho de barro. Uma graça.

— Cofrinho?

— É. O sutiã atrai e a grana do programa vai para o cofrinho…

         — Camelô tem cada uma né? Outro dia, na porta do campo do Guarani tinha um que vendia milho cozido e o freguês levava um pedaço de fio dental de brinde…

— Chique? Um desses árabes que o Lula trouxe semana passada alugou a suíte presidencial de um hotel exclusivamente para o cachorrinho dele. Quando foi embora, pagou a reforma da suíte. E ninguém pediu!

— Pois é, e eu pensei que estivesse bem de vida. No fim de semana, fui para a mansão de uma amiga e fiquei humilhada. Tem mais empregado do que gente (epa!). Pedi uma toalha para o primeiro que passou e ele me disse que não era com ele. O segundo, idem. A terceira me mandou tocar o sino, que viriam todos me atender, e o encarregado das toalhas me arrumaria uma… Tudo porque a governanta estava de férias…

— E o Ronaldinho com a Ciccarelli?

— Casamento de coelhos. Vai acabar na Justiça, onde acabam quase todos os que não dão certo.

— Melhor acabar na Justiça do que começar na delegacia. Antigamente, era assim. Meu irmão contou outro dia, que quando o rapaz não assumia, era chamado na polícia, pelo pai da noiva. Ele diz que viu uma cena horrível. O rapaz levou uma turma de amigos e todos disseram ao delegado que já haviam estado com a moça. E o delegado, machista que só vendo, jogou na cara do pai da menina: “Então, meu senhor, sua filha é uma prostituta!”

— Se houvesse exame de DNA, esse cara ia ver o que é bom!

Pior de tudo, foi essa crueldade entre duas balzaquianas:

— Por que ela não largou dele, quando soube que ele estava com câncer?

Parei de caminhar e saí correndo. Deus me livre!

Pregado no poste: “Nos filmes, os americanos sempre vencem; já no Iraque e no Vietnam…”

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