Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Cadê Uberaba?

Seo Pagano não é bairrista. Nem sua equipe. Fossem, pelo menos um pouquinho, talvez Campinas vivesse momentos melhores. Mas algumas cidades exageram, principalmente quando há rivalidade com as vizinhas. Como Campinas não tem rivais na triste situação em que se encontra, parece que ninguém no comando da terrinha se preocupa. Afinal, que cidade gostaria de nos superar em violência, sujeira, denúncias de corrupção na Câmara, gastos exorbitantes na administração, omissão…? Parece São Paulo… Seo Pagano, nem o Celso Pitta agüentou o Maluf. O senhor vai insistir? Vou contar tudo para dona Marília…
Rivalidade saudável ajuda a crescer. Às vezes, até acontecem coisas gozadas. Tupã briga para ultrapassar Marília (ainda vai chegar lá). Como não tinha edifícios, construíram um, enorme… Foi até notícia no Estadão. Largou o título de “Metrópole universitária de São Paulo”, porque perdeu os dois cursos superiores, mantidos justamente por uma universidade de Marília. Mas arrumou outro: “Metrópole da fotografia”, por causa do grande número de estúdios em seu comércio. Não sei por que.
Outra manifestação estranha de bairrismo aconteceu há muitos, muitos anos, em Bauru. Os ônibus que chegavam de outras cidades davam uma volta tremenda até parar na rodoviária. O passeio inútil acabou quando descobriram que na Prefeitura alguém sugeriu aos motoristas dar aquela volta enorme, só para impressionar o visitante e fazê-lo pensar que a cidade é grande. Bauru nunca precisou disso. Nasceu grande.
Nos anos sessentas, o governo do Estado construiu aquele acesso a Jundiaí, na Via Anhangüera. Ficou bonito, todo ajardinado. Enciumada, Campinas exigiu acesso igual. O governo fez e colocou um nome pomposo para a época: “praça rotatória”. É aquela mesma, no km 92.
Já faz algum tempo, Uberlândia (está um espetáculo) ultrapassou Uberaba, a tradicional “Capital do Triângulo Mineiro”, berço do zebu brasileiro, terra de Mário Palmério e Chico Xavier. E do doce de leite. Em população e riqueza, Uberlândia está na frente. Mas não precisava fazer o que está fazendo com Uberaba. Quem chega de Brasília pela pavorosa BR-050 e entra em Uberlândia não encontra uma placa indicando a direção de Uberaba. Para Uberlândia, Uberaba não existe, agora que ficou para trás. Com essa ausência de informações – só pode ser de propósito –, quem quer seguir para o Estado de São Paulo, e não tem culpa pela briga, também se perde. Afinal, para tomar esse trajeto tem de passar por Uberlândia. (Enquanto isso, quem está em Uberaba encontra todas as placas necessárias para achar o caminho de Uberlândia.).
Há uns quinze dias, dezenas de motoristas em direção ao Estado de São Paulo perceberam, de repente, que estavam a caminho de Ituiutaba, a Oeste, ou Romaria, a Leste, porque no trevo nada aponta a direção de Uberaba. Nem de qualquer cidade paulista. Quando descobrem, voltam para Uberlândia e começam a perguntar por Uberaba. Ninguém sabe. Ou finge ignorar. Parei junto a um guarda de trânsito que atendia a uma fila de perdidos. Sabe o que ele disse: “Eu não sei, mas aquele Palio verde que vai indo lá na frente é de Uberaba. Segue atrás dele…”.
Seo Pagano, em Nova York não existe nenhuma placa apontando o caminho para Campinas. Será que eles passaram a gente?
Pregado no poste: “Campinas, segunda entrada à direita, depois do inferno”

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