Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Cadê os ovos?

— Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

— Foi o pintinho!

— O ovo choco tá rachado? Quem rachou?

— Foi a galinha.

— Corre cotia, pra casa da tia; corre cipó, pra casa da vó!

E bom correr pra casa da tia e ver se lá ainda há um. Está todo mundo preocupado com o destino dos frangos, por causa da gripe aviária, e poucos se lembram de que antes do frango e da galinha, vêm os ovos. Ou depois da galinha e do frango, vêm os ovos. Ou entre a galinha e o frango, vêm os ovos. Se a gripe matar a galinha, quem vai botar ovo para o povo comer?

Como alertou o ministro Roberto Rodrigues (uma das poucas pessoas que prestam em Brasília) na primeira reunião dos países ricos em Davos: “Absurdo! Não vi o tema ‘alimento’ em nenhuma pauta de discussões. Para vocês, se o ovo subir de preço, não acontece nada. Mas vocês sabem quanta gente morre de fome, se o preço do ovo subir um centavo?”. Desde aquela, todas as reuniões de Davos passaram a discutir a produção de alimentos.

É o alimento mais barato do supermercado e o que ainda dá pra o pobre comer. Ovo cozido e uma banana fazem a criança parar de chorar de fome por algum tempo. Cru e com água, disfarçam e aumenta o tamanho da omelete — e alimenta mais bocas.

Entre os pobres, frango se come uma vez por semana; mas ovo se come todo dia.

A gripe aviária mexe com a vida da gente, dos frangos, das galinhas, do dono da granja, do produtor de milho, com o fazedor de coxinha no City Bar do Edmilson, o pizzaiolo, o dono da fábrica de catupiry, o cozinheiro do hospital na hora de fazer a canja… Vamos comer torta de quê? E empada? E salpicão? E a farofa de levar na Praia Azul?

A Maria Isabel da Silva, nossa poetisa e telefonista, pergunta: “Como fazer macarrão, bolo, massas, maionese, pudim (doces, enfim), gemada (com vinho do Porto, para os ricos, e farinha e açúcar, para os pobres), o pão nosso de cada dia…”. Quem vai nos dar hoje, amanhã e sempre?

O profético Ary Toledo parodiava Vicente Celestino, estufava o peito e soltava o vozeirão n’O Fino da Bossa:

Disse um campônio à sua amada… Cadê os ovos que a galinha pôs? Eles eram três, eu só vejo dois”

         Elis, ah Elis!, e todos nós, a maior gargalhada do Brasil. Hoje, lembrei-me dos ovos que a galinha pôs, só que eles eram três e não veremos nenhum…

Pregado no poste: “Em vez do corno, agora, o último que sabe é presidente”

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