Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Brasileiro se vira

A criatividade do operário brasileiro ganha de longe dos trabalhadores de todas as unidades de multinacionais espalhadas pelo mundo – adotam tudo o que seus colegas caboclos inventam.

Quando o trem da Paulista passava pela estação de Jundiaí, batia um cheiro horrível das montanhas de enxofre acumulado no pátio de uma fábrica de adubo. De repente, o cheiro foi sumindo… sumindo… sumiu! Um diretor me contou que funcionários passaram a se reunir em torno daquela fedentina para tomar cachaça às escondidas, antes do almoço, e jogavam naquele monte o “gole pro santo”. A pinga acabou com o fedor e foi permitida pela diretoria, desde que bebida ali…

Um engenheiro da Kodak veio ao Brasil especialmente para exibir à filial deles o novo modelo de tela para projetor de slides. O homem da matriz foi apresentado à tela que um operário tupiniquim criara por aqui:

— Como você conseguiu fazer a tela assim, sem nenhum furinho, lisinha, lisinha!?

— Eu pego essas garrafas de plástico que vêm com detergente, lavo, seco, derreto e estico. Fica assim…

Consta que o gringo enrolou a dele e até hoje procura o caminho do aeroporto, com sua tralha furadinha debaixo do braço.

Em Campinas, uma fábrica americana de parquímetros inventou de vender sua geringonça e teve permissão para instalar algumas no Largo do Rosário, na frente do Éden Bar, do Giovanetti e adjacências. Descontente com outra fonte de exploração do povo, o inesquecível vereador Orestes Segálio amassou várias tampinhas de cerveja catadas na frente dos bares e enfiou nos parquímetros, só para provar que eram vulneráveis à fraude. O querido jornalista Marco Antônio Quintas, morto precocemente pelo desleixo de quem deveria cuidar mais dele do que do próprio cofre, foi além: colocou as tampinhas com água no congelador do Éden e em seguida enfiou as ditas cujas no buraquinho das fichas do parquímetro. Se você vir uns grandalhões por aí, com calças pretas, camisa branca de mangas curtas, gravatas vermelhas e sapatões pretos, com postinhos debaixo do braço, ensine a eles o caminho de Viracopos.

Tem a dos engenheiros da Johnson & Johnson encafifados nos EUA com a quantidade de luvas cirúrgicas importadas pelo Brasil nos anos 40s e 50s. Descobriram que aqui, cortavam os “dedos” das luvas para usar como camisinha. E assim nasceu a nova Jontex, fininha como deve ser, obra do nosso jeitinho.

A última façanha aconteceu dia desses: uma pipoqueira de Sergipe sugeriu que em vez de isopor, os americanos parassem de disfarçar o combate à mancha de petróleo no Golfo do México e jogassem pipocas no mar. Elas sugam o óleo melhor do que o velho Mandiopã! Deu certo.

Pregado no poste: “Quem não tem cão caça cãodidato”

 

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