Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Brasileiro é bonzinho…

Relato de um amigo:

“Primeiro, dá sinal de ocupado vinte e cinco, trinta vezes. Aí, toca, toca, toca… De repente, entra uma voz parecida com a de um homem imitando mulher ou vice-versa: ‘Bem-vindo… Informamos que sua ligação, para efeito de controle de qualidade do nosso atendimento, poderá ser gravada. Se você é isso, tecle 1; se você é aquilo, tecle 2; se você é corintiano, tecle 3; se você é cínico, tecle 4; se quer passar um fax, tecle 5…’

Agora, é uma voz de mulher: ‘Informamos que nosso tempo de espera é de 23 minutos.’. Outra: ‘Estamos transferindo sua ligação.’. E toca, toca, toca… ‘Por favor, aguarde um instante para ser atendido…’. De dez em dez segundos, nova voz, agora quase gemendo, suplica: ‘Todas as nossas posições de atendimento continuam ocupadas. Por favor, aguarde mais um momento.’. No fundo, uma musiquinha. Para quem tem de ouvi-la todo dia, soa como aquela Dominique, lembra?

Finalmente, uma voz de gente, mas imitando robô (Não repare, é que todo dia fazem tudo sempre igual). São Alfredas, Juremos, Cíntios, Giovanos, Euricas, Gustavas, Josefos, Joanos, Guilhermas, Ermengardos, Arnaldas, Olegárias… Coitados, coitadas, educadíssimos, educadíssimas, programadas, programados. A voz nem responde à saudação e vai em frente: ‘Seu e-mail por favor… Oh, o senhor fala da cidade tal, do edifício tal, apartamento tal? Em que posso ajudá-lo?’ Agora, sou eu, que já faço todo dia tudo sempre igual: ‘Estamos fora do ar?’ E a voz continua como fez ontem, anteontem, trasanteontem: ‘Vamos verificar. Clique em ‘iniciar’; depois, em ‘executar’; ai dá um ‘ok’; ‘endereço do adaptador’; ‘endereço de ipê’. Vamos mudar o adaptador: isso, agora clique em ‘liberar’ e ‘renovar’. Pronto! Voltou? Não?! Então eu vou abrir uma ordem de serviço para, em 48 horas, alguém estar procurando o senhor…’.

Perco a paciência, com o gerúndio e com a repetição da incompetência:

— Espere aí, minha filha! Vocês me falam isso todos os dias, há três meses, e jamais nada foi feito. Falo com vocês, até três vezes por dia e nada… Minha mulher já acha que eu tenho caso com alguma aí. A única coisa que se salva é a educação de vocês.

— Sabe o que o senhor faz? Mande um e-mail para nós, contando suas dificuldades.

— Está bem (Pensei: ‘Puts. Vou aproveitar e escrever um romance trágico, que termina com o usuário estrangulando a máquina e fugindo com a mocinha-robô!’)

Aí, cai a ficha: ‘Mandar e-mail como, se estamos fora do ar?’ De novo, caí na armadilha da Internet!”

Pregado no poste: “Já não tinha prefeitura, agora, não tem ambulância?”

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