Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Bem feito

É que pouca gente tem oportunidade de ver, e quem vê não tem tempo a perder com besteira. Desculpe o meu ou mau gosto, mas a roupa que veste essas modelos é uma coisa medonha. Como dizia a mãe da minha irmã, “Você tá muito jeca, se sair assim na cidade, vão te tacar pedra.”. Se a calça era curta demais, ela não perdoava: “Isso tá de obrá em pé.”. Se fosse muito agarrada, então, era tiro e queda: “O ló é maior que o pano, vai entrá no fióis.”. Minha avó era um pouco mais discreta: “Tá parecendo um Bertoldo amarrado no meio. Isso é roupa de judas”. (Em tempo: fióis, fundilho e rêgo são a mesma coisa.)
Vi os retratos dessas mulheres desfilando na tal de “São Paulo féchion uíque” e imagino se elas têm coragem de andar daquele jeito na rua. Agora, não tendo mais o que vestir, inventam na maquiagem. Três delas apareceram com risquinhos na cara. Beijaram ouriço, dormiram com porco-espinho ou chafurdaram em canteiro de picão? Franquistém e Escarfeice ficavam melhor.
É fácil acabar com essa badalação da banalização, que desafia a paciência até dos pacientes do sanatório geral. Pega um bando de garotas vestidas com esses andrajos de luxo e põe para circular na cidade, na escola, no trabalho, mas exibindo o nome dos costureiros. Elas vão ouvir uma vaia nacional. Pra quê serve aquilo?
Quer uma prova? Saiu no Estadão, dia desses. Cheio de grife pelo corpo, um “socialaito” fez escala com um vôo da Varig no aeroporto de Guararapes, no Recife. Passageiro de primeira classe e dono do tal de cartão diamante, foi-se para a sala vip da companhia. Usava camisa Daslu (da Eliane Tranchesi), bermuda ‘ligeiramente’ desfiada da Dolce & Gabbana e na bagagem de mão, uma mala Gucci e outra Louis Vuitton. Ah! Calçava sandálias Havaianas, aquelas que não têm cheiro, não desbotam, não perdem o vinco nem soltam as tiras. Para quem não sabe, dependendo do modelo, essas duas malas podem custar mais caro do que o avião.
Conclui a notícia: “Quando foi entrar na sala vip, um funcionário que vestia terno e gravata lhe impediu o acesso, dizendo que ele não estava adequadamente trajado. Inconformado, foi tirar satisfações, quando recebeu a explicação taxativa de que ele não podia entrar, porque, além da sandália, estava com uma bermuda rasgada e esfiapada.”.
Pregado no poste: “O hábito não faz o monge nem a toga, o juiz”.

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