Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

Crônicas

BEC 11 X 0 Bota

Pensa que estou sonhando?


Quem não tem cão caça com gato; quem não tem AEA torce para o Bandeirante, uai! Outro dia, ligou um leitor indignado, só porque eu achei que o último dérbi foi tão ruim, que os dois deveriam perder. E falou maravilhas do Reginaldo; que ele jogou até no Guarani. Não sei se jogou. Bugrino é tão fanático, que não se lembra nem do time campeão brasileiro de 1978 (antes de Cristo); muito menos com quem vai jogar amanhã ou de quem perdeu ontem. Só me lembro de que na noite daquela conquista nacional, a torcida toda lotou uma bicicleta e foi embora para casa.
O Botafogo que joga hoje com o Bandeirante tem história para contar. Ele e a Ponte Preta protagonizaram, como vítimas, as duas maiores goleadas dos últimos 50 anos da história do Campeonato Paulista. Tão vergonhosas, que em qualquer livrinho que conta a vida do Pantera ou da Macaca, esses jogos não existiram. E os dois contra aquele Santos.


Primeiro foi a Ponte. Lá na Vila, numa noite de novembro de 1959. Santos deuses! 12 a 1! E o Pelé nem jogou! Servia ao Exército. Só o Pepe fez cinco. Sabem o Pepe? O ‘Canhão da Vila’, segundo artilheiro da história do Santos, mais de 400 gols. Dizem que fez um de falta, mas de calcanhar! Outro também foi de calcanhar, mas um gol olímpico. Quanta humilhação!


Depois, foi o Botafogo, também na Vila, também em novembro, numa tarde de sábado, ano aziago de 1964. 11 X 0. Por extenso para não haver dúvida: onze a zero! O Pelé não parava de marcar – fez oito! Dizem as felizes testemunhas daquela ‘sessão de gala que um foi a sombra dele quem marcou, enquanto o corpo esmurrava o ar no meio do campo. Aquele gesto. Quando ele esmurrava o ar aqui embaixo, Deus aplaudia, lá em cima. Um aplaudindo o outro…

O técnico do Botafogo era o lendário Oswaldo Brandão. Duas semanas depois, estava no Corinthians, e enfrentou o Santos outra vez. Tomou de sete. Quer dizer, em uma quinzena, levou 18 gols do Santos, 12 só da majestade. Essa façanha não está nem no tal livro dos recordes.
O Botafogo tinha um grande zagueiro, Tiri. À noite, dormindo o sono agitado de quem enfrentara aqueles divinos demônios à tarde, Tiri sonhou. Sonhou que ia bater uma falta. Chutou o pé do guarda-roupa, mas quebrou o próprio pé. O do guarda-roupa ficou inteiro. Tiri, que prometera anular o Rei, nunca mais foi o mesmo. Mas Pelé foi cada vez melhor.


Como se trata do Botafogo de Ribeirão Preto (já que não pode ser a Ponte Preta…), algo me diz que hoje a história se repetirá. O Pantera vai levar de 11 do Bandeirante. E só para aquele leitor ter motivo para me provocar amanhã, quero ver o Reginaldo fazer oito. Se o Pelé fez, o Reginaldo também faz.
Pregado no poste: “Como Birigui é a terra do calçado infantil, o BEC jamais joga de salto alto”

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