Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Bebendo e aprendendo

Um amigo, o ‘Bugue’, brinca de pés juntos: “Não conheço nenhum dono de bar e restaurante de Campinas, mas garçons, conheço todos…”. Garanto que não é minha a paródia: “Se beber, não dirija; se dirigir, não beba; se não dirigir, beba!”. Ainda outro dia, cansado de ouvir nas propagandas das cervejas “Beba com moderação”, sugeri ao Trinca e ao Chedda, da Antarctica, usar no anúncio do guaraná: “Beba sem moderação”. Falar nisso, hei, vocês dois! Por que não se faz mais anúncio da água tônica de quinino. Eu bebo isso desde menino, quando ela vinha numa garrafa verde e rótulo colado. Delícia como a Gengibirra (já viu refrigerante de gengibre? Só no Brasil!), aquela que anuncia: “Boa pá arrotá!”. É. Mas sodinha com paçoquinha de amendoim é boa pra soltar outra coisa… Quando o Cadão Cecconi tomava isso no bar do Kana Higa, perto do Centro de Saúde, a gente percebia desde a porta da Catedral. Uma vez, ele quase asfixiou o Alecrim.

Mas “bão”, mesmo, é café. Você pode se esquecer até do último botequim, mas dos cafés da vida, jamais. Ou dá para perder na memória o Caruso, ali na General Osório? O primeiro a fazer café de máquina em Campinas, o “IV Centenário”, homenagem aos 400 anos de São Paulo. E do Ouro Verde? Ficava (ainda fica?), na Conceição, ao lado do prédio do Correio Popular. O dono vendia fiado para a turma do jornal, depois mandava a conta para o Departamento Pessoal descontar. Até que um dia… Deixe pra lá. Quer saber? O Renato Otranto sabe.

Ainda existe o Café dos Bancários, na Bernardino de Campos? O “covil das serpentes” está lá, firme – é o Regina. Mas o Café do Povo acabou, como acabaram os “playboys” da cidade – verdadeiros santinhos perto do que há por aí. Café de shopping? Não tem muita graça — shopping não tem esquina…

Agora, atenção. Por falar em café, o cientista Evaristo Miranda fala, com encanto até, da conquista do descafeinado, de que falamos ontem, pela Bernardete, o Fazuoli e o Mazzafera, lá do IAC e da Unicamp, continuando a pesquisa do mestre Alcides Carvalho. Ensina o Evaristo que esse café será um sucesso na Europa, exigente e interessada em produtos naturais. A França toma café descafeinado (o ‘decafiné’) há tempos, mas, ironicamente, usa etileno, um cancerígeno, para descafeinar o dito cujo (quem tem Alcides Carvalho tem tudo!).  E nós corremos o mesmo risco. O calor do café, principalmente café de escritório, dissolve o estireno que há no copinho de plástico, e estireno é… cancerígeno!!!

Como diz seo Augusto, avô do Evaristo, “café que eu posso beber, não bebo”. Entendeu? Café bom é quente, mas em xícara de porcelana ou de louça. De porcelana, como a que a rainha Elizabeth usou para tomar o café do mestre no Agronômico. Do rei para a rainha. Dizem que depois, ela nunca mais tomou chá. Nem uísque.

Pregado no poste: “Dona Izelene, e o museu das brincadeiras?”

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