Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Barão de repúblicas

Nunca foi fácil ser estudante de fora em Campinas. Nos tempos em que os campineiros tinham fama de orgulhosos (porque tinham do que se orgulhar); de provincianos (porque não se misturavam com outras gentes) e outras famas até mais famosas (que ainda persistem), os alunos que vinham para a Puccamp e Unicamp se sentiam rejeitados na hora de proclamar suas repúblicas. Hoje, pode crer, campineiro é minoria em Campinas. Ponte e Guarani já não têm a maior torcida.

Ninguém queria uma república ao lado de casa. Imobiliárias eram alertadas a nunca alugar casa ou apartamento para estudantes. Síndicos ficavam de olho: “O senhor, mesmo, vai morar aqui ou é seu filho, que virá com um bando de amigos?”. Eram preconceito e medo pelo sossego e “moral” ameaçados.

Mesmo assim, alguns pensionatos eram muito cobiçados pelas moças que ficavam do lado de dentro, e por rapazes, do lado de fora. Havia um na esquina da Sacramento com Benjamim Constant, nem sei se acabou, mas ficou famoso até hoje. Outro, perto do “Culto à Ciência”, quase uma clausura mantida pela igreja católica, onde muitas moças entraram de minissaia e saíram de hábito. Na Rua José Paulino, perto do velho Centro de Saúde, havia uma república de gays (estávamos em Campinas, não?). E numa rua paralela, também — habitada por estudantes, enfermeiros, cabeleireiros, bancários… Nunca fizerem nada que os condenasse.

Para os rapazes, a mais famosa ficava no Edifício Telmita, na Regente Feijó, a “Toca dos Brasas”. E outra foi obrigada pelo delegado a retirar a placa da porta. Era a “Palhoça das Virgens”. O argumento dele para convencer os meninos foi inesquecível: “Podem pensar que é uma república de homossexuais!”. Falou sério.

Nestes tempos modernos, repúblicas não marcam nossa paisagem. Em Barão Geraldo, já se constróem repúblicas clandestinas, irregulares, e o povo do distrito onde o boi falou se mexe para expulsar os estudantes. Têm medo de que a galamurosa “Cidade Universitária” se torne “República Universitária”, “Reino Universitário” ou, no futuro, “Cortiço Universitário” e, depois, “Favela Universitária”. É Campinas descendo ladeira.

Pregado no poste: “Representante do povo merece ganhar mais do que o povo?”

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