Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

‘Baixo less’

Se é para obedecer ao Código Penal, nada de maiô na praia. Ele proíbe. Até nas piscinas. Lembra de quando a Solange Lepreri usou biquíni pela primeira vez no Tênis Clube, em 1953? Foi um es-cân-da-lo! Ainda mais perto de crianças, mon Dieu! Dois anos depois, o vitrinista Aldo Bergantin ousou expor um manequim vestindo o primeiro biquíni na vitrine da Casa Anauate, ali na Treze de Maio. Nossa! O trânsito parou. Tanta gente, nem os bondes podiam passar. Bem ao lado da Catedral e o vigário não chiou.

O Jânio Quadros levou oito anos e milhares de litros até chegar à Presidência, para proibir o biquíni. Isso quando a Luz del Fuego, havia séculos, vivia pelada numa ilha do Rio de Janeiro. O Jânio proibia tudo: briga de galo (até tiveram de fechar uma na Rua Falcão Filho), lança-perfume, vedete com as pernas de fora na televisão, corrida de cavalo…

Você não sabia? O Jânio proibiu o rock’n’roll! No fim de 1957, pouco antes do Bill Haley e seus Cometas virem ao Brasil e barbarizar o Cine Marrocos, com a “Dança das horas”, o homem era governador de São Paulo e decidiu atender ao apelo do juiz Aldo de Assis Dias. O magistrado não queria “essa explosão libidinosa, principalmente nos bailes do Carnaval que se avizinha”. E o homem da garrafa mandou ver, ordenando ao chefe de polícia: “Prenda o dono de clube ou de salão, sem contemplação”.

Sabe quem cantava rock por aqui naquele tempo? Não vá cair da cadeira (ou da cama): João Dias (sucessor do Chico Viola), Carmem Costa e a Nora Ney, com violão amarrado na cintura. Inacreditável, né?

Em 1964 veio o monoquíni e ninguém se escandalizou. Também, não pegou. Roberto Carlos até fez modinha: “Não suporto mais o biquíni/ Broto tem de usar monoquíni/ Pra lá e pra cá… Em 66, a minissaia mudou tudo: aproximava-se o encontro triunfal da barra com o decote, que ainda não aconteceu.

Agora, a polícia do Rio quer proibir o topless? Justo lá? O Brasil inteiro faz “baixo less” há muito tempo. O povo está com as calças na mão.

Pregado no poste: “Do último sutiã ninguém se esquece”

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