Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Ausentes de Natal

Ilze, a última flor da terceira geração dos Zink, nos deixou há dez dias, aos 86 anos. A mais nova dos nove filhos do lendário mestre Carlos Christovam Zink e da sua Sophia Maria Müller, ambos na raiz da antiga Escola Alemã, hoje Colégio Rio Branco, fundada pelo pai dele, o pastor Johann Jakob Zink, em 1863. É uma das mais antigas e respeitadas escolas particulares do Brasil em atividade. Suas filhas, Carla Deckmann, em Campinas, e Renate Adolfs, na Alemanha, contam na história da família 40 professores, do ensino fundamental ao superior. Ensinar, plantar e viver com fé é a marca dos Zink, que fundaram a Igreja Luterana, ali perto do Mercadão. Eles são assim, há 139 anos.

Como campineiro, não passo o Natal sem me lembrar (e agradecer) dos três grandes presentes que hoje esses grandes ausentes deram para nossa cidade: a Escola Alemã e, com os admiráveis Krüg, o Colégio Culto à Ciência e o Instituto Agronômico. De todos que honram esse nome, Ilze foi a que testemunhou por mais tempo a importância para o mundo dessas três instituições – verdadeiros jequitibás na terra dos jequitibás.

Vamos deixar par a filha Carla falar de sua mãe:

“Havia quem a amasse e quem implicasse com suas ‘zinkices’. Ficar indiferente, nunca. Ela se espalhava…

Conviveu com quase nove décadas da história do Brasil. Fez sua parte em todas: lutou com os irmãos por São Paulo, na Revolução de 1932. Aprendeu a ler, escrever, entender a língua, os costumes, a história e a geografia do Brasil e da Alemanha na escola do avô e dirigida pelo pai. No Lencastre, fez datilografia e práticas de escritório. Casou-se com quem os irmãos não queriam, apesar de alemão nativo, marido ideal, não tivesse ele sido um carioca de coração, botafoguense remador do Flamengo, boêmio e namorador… Foi viver com a família dele no Rio de Janeiro, nos anos do pós-guerra. Conheceu uma realidade totalmente diversa daquela que seus pais pietistas-luterano-moralistas lhe ensinaram.

Perdeu o pai, mentor e exemplo de vida, em 1964. Daí a três anos, a mãe, e virou matriarca sem querer o papel que fez dela a figura central da família. Na hora de ir, estava linda, jovem e feliz. Sorriu.

Pregado no poste: “Nossos ausentes também são nossos maiores presentes, Campinas!”

 

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