Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Assombração trabalha de graça

Quando li o título da reportagem da Lana Torres, quinta-feira, até achei bom: “Delegacias terão vigilância privada”. Pensei logo: agora, a Câmara também poderá ter. E se… O povo, que paga a existência daquilo, terá o sacrossanto direito de exigir as fitas e saber quem perverte os fins de um próprio da municipalidade.

Houvesse vigilância até nas privadas, saberíamos, por exemplo, quem levou aqueles 360 quilos de cocaína da delegacia — e para os narizes de quem (narizes, porque ninguém é louco de levar 360 quilos de pó para consumo próprio). Veríamos quem furtou os trilhos de bonde da cidade. Quem sabotou a reforma do teto do Cine Rink, matando 25 e ferindo 400 campineiros na matinê de 16 de setembro de 1951. A cidade saberia quem tramou a morte do seo Toninho e a do Alecrim do Largo da Catedral…

Recebi de um leitor, há muito tempo, este desafio: “Sobre o segredo da Catedral, quando passar pela Rua José Paulino (atrás da Catedral), na calçada oposta, preste a atenção na parede da igreja. Depois, me conte…” O que será? Ele também me fala sobre “o crime do mudinho”, na mesma Catedral. Você sabe quem cometeu? E o ‘bandido mascarado’, santo Deus? Será que alguma vigilância privada teria flagrado o bandido procurado há meio século? Revelaria que ‘boi falô’, em Barão Geraldo? E quem envenenou o chocolate que matou pai, mãe e filho e livrou a filha, anos atrás?

Mas essa vigilância privada contratada para vigiar as delegacias de Campinas está com cheiro de quem dorme no “serviço”. Seo delegado não revela nem quanto o povo terá de pagar para a firma encarregada de acionar as geringonças… Houvesse vigilância privada na hora de assinar o contrato, o povo saberia quanto vão tirar do bolso dele. Certo?

Seo ‘dotô’, talvez o senhor não seja do tempo do velho DEIC, na Rua Brigadeiro Tobias, aí em São Paulo. Sabe por que ele foi desativado e todos os delegados saíram dali, mãos erguidas para o céu? Medo. Contamos no ‘Estadão’ que aquele prédio era mal-assombrado, que se ouviam gritos de presos torturados e mortos na carceragem. Até definir o novo lugar, seus colegas passaram a dar expediente noturno no saguão. Espalhe histórias de assombrações que rondam as delegacias — e o senhor verá até as câmeras de vigilância picarem a mula. Inclusive a mula sem cabeça, seo ‘dotô’.

Pregado no poste: “Quem tem, tem medo”

 

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