Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Asas à imaginação

Contrariando todos os princípios de igualdade e fraternidade da igreja católica, a Cúria Metropolitana de São Paulo cometeu o pecado explícito da discriminação contra uma das jornalistas mais sérias e competentes que o País conhece. Proibiu à Maria Teresa Costa, terror dos medíocres, acesso ao esqueleto e à múmia das freiras encontrados no porão do Museu de Arte Sacra, mas permitiu a entrada dos repórteres do ‘Fantástico’.

Como canta Lucinha Lins, “…pois eu sou feito bailarina / Se a ribalta se ilumina / Fico roxa pra dançar.”

Com essas e outras, essa igreja se esvazia. Quando Campinas tinha 200 mil habitantes, só na Igreja do Carmo, celebravam oito missas aos domingos. E agora?

Com todo o respeito, como não há acesso à informação, dão asas à imaginação e pensam o que querem sobre aquelas duas freirinhas ali deitadas, o esqueleto de uma pousado no peito da outra.

Conta dona Rose Marie Afonso Madeira que, na II Guerra, seu pai, pracinha da FEB, ficou de quarentena num quartel em Itu, esperando chamada para embarque – o que não aconteceu. Antes de quartel, ali foi um convento.

Sem ter o que fazer, soldados passaram a vasculhar o local. Viram que existia um túnel e no fim dele, em vez de luz, mais esqueletos de adultos. Padres? Jovens? Vítimas de alguma doença que exigia isolamento? Pense o que quiser. Depois, encontraram muitos esqueletos de crianças.

(Filhos de famílias pobres deixados na roda? Órfãos recolhidos pela caridade dos religiosos? Ou de freiras expulsas de casa quando as famílias as descobriam grávidas? Naqueles tempos cruéis e sem perspectivas, as jovens “desonradas” por namorados de famílias “honradas” não tinham para onde ir. Restava esse santo refúgio.)

Ou será que tudo isso é lenda?

Aqui em Campinas, a mesma dona Rose, atrás de um documento na Cúria, achou nos arquivos a história passada na virada do século 19 para o 20. Na Catedral, era hábito reunir os mendigos para um café da manhã ofertado pelos paroquianos, durante a celebração da Páscoa. O bolo que seria servido ao pároco foi, inadvertidamente, comido por um casal de mendigos. Marido e mulher morreram envenenados no lugar do padre. Será que alguém queria se vingar do padre? Por quê? Mas quem disse que aquele bolo era do padre? É de se ver aonde vai a imaginação popular!

Pregado  no poste: “Plim! Plim!”

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