Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Aonde enfiam nosso dinheiro

“Uma de minhas irmãs empregadas aqui é imprescindível. Se houver lei que proíba a contratação, pagarei, pessoalmente, seu salário. Ela é pessoa de minha confiança”.

“Tenho que nomear alguém da família. Meu primo faz serviços de rua e visita em bairros”.

“Uma irmã é chefe de gabinete e o outro motorista – por causa da competência e confiança. Os meus irmãos trabalham mesmo, das 8h às 19h. O que é abusivo é contratar e não trabalhar”.

“Ela (minha filha) irá coordenar dois escritórios políticos que irei abrir no Campo Grande e no Jardim Aurélia. É uma pessoa da minha confiança”.

“Eu cobro muito mais do meu irmão do que dos outros funcionários. Não vejo problema em contratar um parente que realmente trabalhe”.

“Nomeei meu filho, mas não deve existir abuso. Acho que é nepotismo quando o parente não trabalha”.

“Contratei meu filho e meu sobrinho. Tenho que ter pessoas de confiança ao meu lado. O meu sobrinho é quem controla as ligações telefônicas e uso do xerox, porque não quero abuso com dinheiro público”.

“Não é nepotismo porque ele não é meu irmão de sangue, é de criação”.

“Minha ex-cunhada trabalha comigo há 12 anos. Não é nepotismo porque me separei de sua irmã há cinco anos”.

“Nepotismo é contratar parentes consangüíneos e ela é cunhada de meu pai.”

“Ele (o prefeito) estava precisando de uma pessoa experiente sobre tributação e eu sugeri, sem qualquer compromisso, o meu irmão”.

São políticos tentando justificar porque obrigam o povo a pagar o sustento deles e de seus afilhados. Os salários variam de R$ 2 mil a R$ 4,1 mil, o que dá quase R$ 600 mil por ano – você conhece algum que tenha feito algo importante para você ou sua comunidade? Até o escritório político de um deles você é obrigado a pagar.

A repórter Rose Guglielminetti, do alto da nossa indignação, alerta que o número de parentes de vereadores que ocupam cargos na Câmara pode ser muito maior, já que há casos de nomeação de parentes que não têm o mesmo sobrenome do vereador. A estratégia para desviar a atenção sobre o parentesco é confessada pelos próprios parlamentares – Oh! Virgem Santíssima, Deus Pai Todo-Poderoso!

“Parentes de vereadores ascendem a cargos públicos vedados a outras pessoas de bem só porque são parentes de vereadores. Há de exclamar, igualmente: é injusto! E mais: imoral!”, sentenciou o juiz da 9ª Vara Cível de Ribeirão Preto, João Agnaldo Donizeti Gandini, que mandou afastar parentes de vereadores que descobriu pela frente.

Você pensa que acabou?  Entre os 20 mil funcionários da Prefeitura de Campinas, pelo menos cinco são parentes do seo doutor Hélio, e de três membros do primeiro escalão, da mulher ao namorado de uma filha. Uma ganha 4,5 mil por mês e engorda o salário com R$ 250,00 de auxílio-alimentação (supermercado). Eles custam ao povo, que não tem direito a nada disso porque não é parente de ninguém lá dentro, R$ 26,7 mil por mês. E o coordenador de comunicação da prefeitura ainda contesta que as contratações caracterizem nepotismo.

Nossa primeira-dama (quem seria a última?) ganha R$ 7.200,00 por mês. O filho do coordenador político do governo, para não ficar por baixo, também leva R$ 7.200,00 – afinal ele é secretário-executivo do gabinete. Nós temos de pagar ao namorado da filha do prefeito R$ 4.810,00, para ele ser subprefeito de Barão Geraldo. Quando se casarem, não a considerem subprimeira-dama de Barão. Isso seria falta de respeito.

Enquanto isso, o cidadão Romeu Mantovani, que paga seus impostos para não faltar salários aos nossos supercidadãos e supercidadãs, suplica no “Correio do Leitor”: “Moro à Rua Eduardo Nogueira, no Jardim Lídia. Essa rua existe e fica em Campinas, viu prefeito? Pois por aqui o senhor passou a cabalar nossos votos. Por três administrações esperamos por uma pequena, porém indispensável, obra para evitar alagamentos. O pouco que se fez foi um serviço péssimo. Já mandei duas cartas ao digníssimo alcaide e mantive vários contatos telefônicos com o administrador da AR-2. Diante da indiferença às minhas expensas, plantei várias árvores e pedi que me mandassem grama e terra para gramar a área e evitar erosão. Recebi como resposta um mutismo completo. Diante disso, não me venham mais com a conversa de parceria entre povo e Administração.”

Pregado no poste: “Você acha que eles fariam greve por melhores salários?”

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