Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Allons enfants de la Campinas

Estava tudo bem naquele 14 de julho de 1789, em Paris. Dizem até que a Bastilha se achava vazia. De repente, Camille Desmoulin, um louco, à frente de um bando de libertários reunidos num café, decidiu abrir antes da hora as comemorações dos quinze anos de Campinas.  Deu no que deu. A festa de debutante da nossa cidade oferecida pela Capital da França inaugurou a Idade Contemporânea em todo o mundo, apregoando a todos o princípio da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

Exatamente 233 anos antes, Nostradamus tinha aparecido em Paris para uma visitinha à Catarina de Médicis, casada com o rei. Na verdade, ele era muito mais do que um conselheiro dela. Foi até sua majestade para avisá-la de que, em 1789, por causa da celebração do aniversário de um ponto luminoso nascido numas campinas dos trópicos, o sonho dos iluministas se tornaria realidade. Não deu outra.

Para os que confiam na premonição das coincidências de datas, é uma festa. Imagine que depois de celebrar os 15 aninhos de Campinas, Paris resolveu proclamar a maioridade desta nossa terra, adotando oficialmente a Marselhesa como hino da França, justamente no dia 14 de julho de 1795. Mais: o profeta Nostradamus nasceu a 14 de dezembro de 1503, exatamente porque a 14 de dezembro de 1797 fora criada a sede do Distrito de Campinas.

Pode procurar: naquele dia sagrado de 14 de julho de 1774, aconteceu nada na História da Humanidade: só a fundação de Campinas, obra de bandeirantes, sob o signo da cruz. O mundo parou, deslumbrado. Também nada aconteceu no 14 de julho de 1874 nem de 1974, a não ser comemorações dos 100 e dos 200 anos desta cidade de gente orgulhosa, porque tinha do que se orgulhar.

Num 14 de julho — de 1932 — Santos Dumont, que aqui viveu, aqui estudou e aqui lançou a pedra fundamental do  monumento túmulo ao amigo Carlos Gomes, escreveu sua última mensagem, de apoio à Revolução Constitucionalista, deflagrada cinco dias antes pelos paulistas, contra a canalha getulista. Matou-se cinco dias depois.

Hoje, 235 anos depois da saga de Barreto Leme e da entrega solene a Nossa Senhora da Conceição, se você não prestar bem a atenção, pensará estar num lugar de passado ímpar, presente ausente e futuro mais que imperfeito.

Pois, é: “Le jour de gloire est passé”

Pregado no poste: “Isto é Campinas? Prove!”

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