Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Ainda dói!

Quando vi a fotografia do prédio do Hospital Coração de Jesus na reportagem do Gilson Rei, denunciando o abandono da obra, senti uma dor terrível em duas partes do corpo, que até hoje não passou. Dói mesmo. Antes, dói e dá nojo o abandono pelas autoridades que não conseguem, depois de tanto tempo, decidir se tombam ou não a construção. Oito anos!

Outro dia, um deputado federal se vangloriava de ser o autor do projeto-de-lei que regulamentou as datas de pagamento das aposentadorias. “Uma luta de mais de vinte anos”, se ufanava. Porca-pipa! Se um bando de mais de 500 leva mais de vinte anos para adotar uma medida tão simples, tinha mais é de se envergonhar e devolver tudo o que recebeu do povo, meu Deus. Agora, oito anos para saber se um prédio deve ser tombado, enquanto o abandono estraga tudo? Quem pagará a conta da recuperação? Já descobriu?

Melhor lembrar da dor. Naqueles tempos de IAPC (Instituto de Aposentadoria dos Comerciários), o hospital dos comerciários e de seus dependentes era a Clínica Santo Antônio, com consultórios nos porões desse prédio, e freirinhas, pra lá e pra cá, amparando os doentes. Anestesia era na base da máscara de éter. Entrei para extrair as amídalas e não me lembro se cheguei a dizer “Guarani”, quando o legendário doutor Gastão Mangabeira Albernaz perguntou o nome do meu time. Acho que dormi antes.

Dois dias depois de muito sorvete (era o consolo para os operados da garganta), ainda estava internado. E a outra imagem era a de duas freirinhas de hábito vermelho de sangue. Uma comigo no colo e outra ligando para o dr. Gastão, que parou de assistir a uma peça no Teatro Municipal naquela noite, para me socorrer. Aquele piso xadrez também ficou vermelho…

Grande médico, o doutor Gastão Mangabeira. Era chamado de “melhor otorrino do Brasil”, pelos primeiros alunos da nascente Faculdade de Medicina da Unicamp.

A outra dor acontecida naquele hospital Coração de Jesus veio seis anos depois. Dor forte, a pior que já senti. Mas o médico era bom. O pioneiro dos transplantes renais em Campinas, o fantástico Nelson Caprini, já na Casa de Saúde do dr. Trinca. Ele também me perguntou para que time eu torcia. E era para o mesmo Guarani dele. Foi o dr. Nelson quem me circundou. Será que eu preciso dizer qual a outra parte do corpo que mais doeu?

Pregado no poste: “Imagine se ele não fosse bugrino!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *