Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Adeus crocodilo! Adeus jacaré!

Fecham-se as cortinas e desmancha-se o espetáculo. O berço do rock&roll no Brasil está desaparecendo. O paulistano Cine Marrocos, imenso, imponente, que em abril de 1958 recebeu Bill Haley e seus Cometas para uma platéia que tomou seus 1.870 lugares. Delírio. A Rua Conselheiro Crispiniano virou um gigantesco pacote de jovens, em lambretas, blusões de couro e os primeiros coloridos, com faixas marcando a cintura, como os de Marlon Brando e James Dean.  Na segunda noite, esses ‘pleibois’ invadiram o cinema com galinhas, patos e marrecos no Marrocos. Voou pena para todo lado. O então governador Jânio Quadros proibiu o rock em todo o Estado de São Paulo, “inclusive no Carnaval”.

E o que Campinas tem a ver com isso? Muito! Ouçam:

Um ano antes, por volta de fevereiro, nossa Rádio Educadora, PRC-9, nos 1.170 quilociclos, com estúdios no Cine Rádio, à Rua Regente Feijó, ousou lançar o primeiro programa dedicado ao rock no rádio campineiro. Na bela voz de Paulo Silas, a mesma que às 13 horas em ponto, de segunda a sexta, trazia o ‘Telefone Pedindo Bis’. A gente ligava para 4759, 5766 ou 7621 e votava na preferida. Entre 14h30 e 15h00, o ‘Atendendo o ouvinte’ tocava as mais votadas. O que hoje seria outra ousadia da PRC-9, a formalidade da época aceitava: o nome do programa pioneiro de rock era ‘Juventude, a hora é vossa’! Tente anunciar na MTV algo com esse nome. Marina Person pisa na sua cabeça.

O maior sucesso de Bill Haley era ‘Rock Around the Clock’, gravado em 1955. Nada mais do que a versão eletrizante da secular ‘Dança das Horas’, bailado da ópera Gioconda, de Amilcare Ponchielle. Renasceu em ‘Fantasia”, de Walt Disney, exibida por Mickey, no papel de aprendiz de feiticeiro, em 1953. E aqui nossa Campinas aparece de novo. É quase certo que a melodia desse magistral bailado seja de Carlos Gomes. Ponchielle, seu vizinho em Lecco, acabara de compor Gioconda, mas a inspiração para a grande música não vinha. Consta que na casa de Carlos Gomes encontraram uma carta de agradecimento do compositor italiano, pelo bailado. Nosso maestro inspirou outros rocks, como uma ária do Guarani, que virou ‘Pigeon Without a Dove’, na voz do grego Patrick Dimon, favorito de Aristóteles Onassis, atenção!, casado com a franco-greco-americana Maria Callas, a mais importante soprano da Humanidade.

Conhecedor da história, ele compôs o penúltimo verso, talvez alusivo ao drama do italiano: ‘I am a simphony without main melody’ (Sou uma sinfonia sem melodia principal…). Sei não, se Onassis não encontrou em Jackie Kennedy a ‘melodia’ que procurava.

Campinas outra vez: outro sucesso de Haley foi “See you later alligator” – sucesso no Brasil na voz do campineiro João Dias, herdeiro de Chico Viola, ‘o rei da voz’, que entre ‘Mamãe’ e ‘Sinos de Belém’, acenava: ‘Até logo, crocodilo; até logo, jacaré; Olhe bem pro meu estilo, muito feio você é…’

Mais Campinas: Onassis vinha a Campinas se tratar da miastenia que o matou, mas o médico morreu dias antes…

Pregado no poste: “Bairrista é a vovozinha”

 

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