Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Abra o olho

A Fabiana Bonilha está num projeto que tem o pioneirismo dos que enxergam longe, o “Diário Braille”, jornal dedicado aos deficientes visuais e editado pelo Departamento de Educação da Rede Anhangüera de Comunicação. Já são dois anos de uma garra comovente. Para que todos conheçam um pouco dessa obra, veja o que ela escreve, em Braille, na edição de julho:

“Nós, deficientes visuais, vivemos no nosso dia-a-dia várias situações em que as pessoas videntes têm dificuldades para lidar conosco ou para entender nossas reais limitações. É nosso papel esclarecê-las e auxiliá-las a se relacionar conosco com maior desembaraço e naturalidade. Muitas dessas circunstâncias em que os videntes vêem-se frente à frente com nossa deficiência tornam-se engraçadas. Alguns exemplos deste tipo de situação:

  1. Atravessando a rua — o humorista Geraldo Maggela costuma contar em suas apresentações que um vidente ajudava um cego a atravessar uma avenida de duas pistas. Ao chegar no canteiro, o vidente pergunta:

— Você quer atravessar para o outro lado?

— Não, eu moro aqui!

  1. Comunicação frustrada — andava muito tranqüila e segura do caminho que fazia. De repente, um homem segurou meu ombro com uma das mãos. Percebi que com a outra ele gesticulava, e, sem me conduzir para nenhuma direção, dizia bastante apavorado e em voz alta:

“Não, moça! É para lá! É para lá! Não é por aqui, não!”

  1. Cegos revolucionários — uma amiga comenta que conhece uma instituição que realiza um trabalho muito bonito. Atende aos cegos e àqueles com visão subversiva. Perguntei, espantada, quem são esses últimos. Então, ela me disse que se referia às pessoas com baixa visão. Concluí que ela confundiu ligeiramente os termos, já que ela queria falar das pessoas com visão subnormal!
  2. Contadores de degraus — você já foi guiado por alguém que, ao descer a escada, conta os degraus em voz alta? Será que essa pessoa pensa que nos ajuda, quando nos informa quantos degraus já descemos?
  3. Trabalho colorido — uma professora se propôs a me mandar por e-mail a correção de um trabalho que eu tinha feito. Ela disse que iria colocar os erros destacados em vermelho. Eu contestei, dizendo que para nós, isto não teria significado, já que eu não veria o destaque. A professora falou que não haveria problema: colocaria em negrito mesmo!

Queremos agora, sua participação. Primeiro, para sugerir um nome criativo e bem-humorado para essa coluna. Depois, para mandar exemplos de situações engraçadas que você já viveu!” O e-mail é cescola@rac.com.br.

Pregado no poste: “Viu?”

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