Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

“Abra a porta!!!”

Ainda existe gente alegre e que sabe brincar de verdade. Tinha de ser no Interior de São Paulo. Neste fim de semana, numa cidadezinha aqui perto de Ribeirão Preto, um grupo de amigos protagonizou dois espisódios dignos de uma boa comédia.

Sábado, inventaram de almoçar num restaurante, daqueles bem simples, mas de comida muito gostosa. Lugar bom mesmo, não daqueles chiques, freqüentados por políticos que embrulham o estômago da freguesia.Vi logo que ali se podia comer à vontade, livre de falsas saudações, apertos de mãos fingidos, aquelas coisas. Como ainda falta muito para as eleições, eles não aparecem em lugares de pessoas humildes, honestas, trabalhadoras. O contraste é gritante.

Quando o grupo de oito amigos chegou, um já tinha sido escolhido para “Cristo”. O mais gaiato da turma falou no ouvido do garçom: “Está vendo aquele rapaz ali? Ele está meio alterado. O senhor, por favor, não sirva cerveja pra ele, tá?” Na primeira rodada, o copo do coitado ficou vazio. Ele estranhou. Na segunda, também. Ele gritou e o garçom fez que não ouviu. Na terceira, saiu correndo atrás, com o copo na mão. O gaiato disse: “Não falei? Ele está de caco cheio!”

Na hora de sair, o “Cristo” foi ao banheiro. O gaiato trocou as plaquinhas das portas. A da cartola foi para a do toalete das mulheres e a do leque, para a dos homens. E gritou: “Fulano, você entrou no banheiro das mulheres! Já pensou se tivese tomado mais cerveja?” Todo mundo ficou olhando a cena. A “vítima” saiu, viu e avermelhou. Fez um discurso para a platéia de amigos, garçom e fregueses: “Vocês me desculpem! Esses caras me tiram do sério. Eu não bebi. Foi sem querer, juro!”. Demorou para ele perceber que tinha feito xixi num mictório de homem e que no banheiro onde entrou não havia bidê. Esbravejou: “Hoje eu mato um aqui!”.

No domingo, os oito, com as respectivas esposas – um com a namorada nova –, estavam na missa das dez. Depois, elas se foram e eles ficaram na pracinha da Matriz, conversando, fazendo hora para o almoço.

Um deles reclamou: “Estou com vontade de ir no banheiro. Acho que vou até em casa, esse banheiro da praça é muito fidido”. Os outros insistiram: “Fica aí, daqui a pouco passa, pô!”. Ele esperou, mas não passou. Correu pra casa. O gaiato correu pra mercearia e ligou para a casa do “apertado”. A mulher atendeu: “Alô! Cecília, é o Marcos. Olha, tranca as portas. O Alfredo brigou aqui no boteco e disse que ia até aí buscar o revólver! Nós não coseguimos segurar ele. Não deixe ele entrar, pelo amor de Deus! Já estamos indo para aí. Fica tranquila, mas não deixe ele entrar, tá bom?”

Eles correram, mesmo, para se deliciar com a cena. Impagável!

O coitado segurava a barriga e esmurrava a porta. Tocava a campainha, berrava o nome da mulher, suava frio, piscava os olhos, se descabelava. A casa é daquelas antigas, com a porta na rua, sem um jardim com uma arvorezinha que fosse, para esconder o alívio. A Cecília ainda dava bronca nele: “Aqui ocê num entra! Ocê quer é pegar o revólver pra matá os outros! Sossega, depois ocê entra!” E ele, naquela aflição: “Que revólver!? Cirça, você tá louca? Abre a porta, sua desgraçada, porque eu já tô fazendo nas calças!!!”.

Fez.

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