Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

A última estrela da bandeira americana

“Foi amanhã”. Faz quarenta anos; sou testemunha; meninos, eu vi. Mas até hoje não sei se os homens chegaram à Lua. No meu caso, o módulo lunar desceu no Éden Bar, às 23h56 do dia 20 de julho de 1969. O ônibus enorme, da CCTC, mas menor do que o ônibus espacial que veio depois, havia acabado de chegar da Vila Marieta, estacionando em vez de alunissar, no Largo do Rosário, trazendo-me da casa da namorada. Fazia a última viagem e tinha meia dúzia de gatos pingados a bordo, que nem sabiam da façanha anunciada.

(Imagine a alienação: enquanto os narradores Hilton Gomes, direto do Cabo Cañaveral, e Eron Domingues, no estúdio, travestidos de astronautas, contavam o que sabiam e não sabiam na nascente TV Globo, na TV Record, Hebe Camargo batia aqueles ancestrais do Cid Moreira, entrevistando o roqueiro roceiro Eduardo Araújo, o “goiabão”. É que naquele tempo, por lá, o dinheiro ainda não caía do céu nem havia bispo a quem se queixar por falta de espírito santo, digo, espírito jornalístico. Em vez de pentecostes, só penteadeiras nos camarins. Amém?).

Quando um dos heróis plantou a bandeira dos Estados Unidos no solo lunar, um gaiato gritou na porta do bar: “Ô do capacete! É para colocar a bandeira Ponte, meu!”. Ninguém riu, ninguém brindou e era o pequeno passo para o homem e o grande passo para a Humanidade.

O jornalista Roberto Godoy, o astronauta preferido de onze entre dez jornalistas do Brasil e do mundo (até da Globo), diz que pousaram na Lua, sim. Além da panela não aderente, que aquela Globo insiste em mostrar como “uma das maiores conquistas da conquista da Lua”, nosso jornalista enumera: automação, eletrônica, lepeteope, miniaturização, sobrevivência no espaço, relógio digital, microcomputador, roupa com controle de temperatura, dirigibilidade do módulo (baseada nos sensores da jararaca ilhoa do nosso litoral, aquela que não erra o bote), purificador de água, liofilização para conservar alimentos, tecidos resistentes ao calor, poliester isolante, aparelhos de ginástica, isolamento para oleodutos…

E… e… detector de gases perigosos – ou seja, a bordo todos saberiam quem foi.

Quando saí do Eden, os jornaleiros já gritavam a manchete da edição extra do nosso Correio: “Mar da Tranquilidade, urgente!”. Obra de Carlos Tontoli e Roberto Goodoy, os nossos astronautas.

Pregado no poste: “Sabem chegar à Lua, mas não sabem fazer a paz”

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