Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

A última do português

Boa idéia nos mandam os gajos da mãe pátria. A notícia saiu segunda-feira no jornal “Público”, de Lisboa. E o fato foi tratado e retratado com a seriedade peculiar da gente da santa terrinha. Diz o jornal: “Foi uma missa diferente aquela que ontem se celebrou na Igreja Paroquial de Santo António de Campolide. Como forma de protesto pelo estado de degradação a que o governo deixou o imóvel chegar, o padre João Nogueira, os acólitos da paróquia e perto de centena e meia de fiéis assistiram à celebração eucarística de capacete na cabeça.”. Escrever “capacete na cabeça” não é redundância do repórter, posto que no Brasil há motoqueiros a usar capacete no cotovelo. Se bem me lembro da leitura, o padre alegou não ser operário nem motoboy, mas como bom ciclista, usou o protetor apropriado.

Foi aí que sobrevoou minhas idéias o morcego anunciado pela dona Rose Marie Afonso Madeira, na semana passada. Estava ela num festival alusivo à semana espanhola, que celebra a descoberta da América, no Centro de Convivência Cultural, quando o bicho esvoaçou pelo palco. Poucos viram, mas ela não fingiu pena deles. Contou tudo indignada (ela ainda é capaz de se indignar com a forma como a Cultura é tratada nesta terra) e temerosa de que se todos vissem o alvoroço que seria. Em pânico, pisoteariam até o morcego.

Mas essa atitude dos portugueses é um excelente exemplo que como se proteger do desleixo das “otoridades”. Quem demonstrar a extrema coragem de entrar naquilo, que use capacete como medida de segurança para não morrer durante o espetáculo – o que já aconteceu no desabado Cine Rink. O raio não cai duas vezes no mesmo lugar, portanto como caiu na Conceição com Barão, pode destruir o Convivência e não deixar sobrevivência.

A platéia deveria usar o capacete como meio para comunicar seus protestos de alta estima elevada consideração com as “otoridades”, como fazem os pilotos de Fórmula Um, que vendem cada pedacinho em branco do dito cujo. Sugestões não faltam:

“Fui ao teatro e escapei”

“Rink 2, a Missão”

“Centro de Convivência com o Perigo”

“A Conveniência de não ir ao Convivência”

“A terra de Carlos Gomes não merece um teatro, mas a terra de Glauce Rocha, sim”

“Ao primeiro estalo, não adianta correr”

“Capacete — não vá ao teatro sem ele”

Pregado no poste: “Em Campinas choram as duas máscaras do teatro”

 

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