Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

À sombra da devastação

Levante a mão quem já viu uma árvore de nome pau-brasil! Levante a mão quem sabe que pau-brasil é nome de árvore. Agora, quem sabe que hoje é o Dia da Árvore? Sua escola tem uma? Como ela se chama? O Brasil é o único pais batizado com nome de árvore. É o que (ainda) tem a maior floresta do mundo. E é o que mais mata suas árvores. Logo chegará o dia em que a pergunta partirá de um aluno: “Professora, o que é uma árvore?” Aí, será o fim da vida.

Já há sinais dessa tragédia. Em São Paulo, recebi a visita de um sobrinho de seis anos, o Ricardo, então feliz morador na superarborizada cidade de Tupi Paulista, barranca do Paranazão. Quando saiu à rua pela primeira vez, logo se encolheu todo: “Vixe, tio! Não tem árvore!?” Sua casa dava de frente para uma praça imensa. Quando estive lá, ele apontou, todo orgulhoso: “Este é o meu quintal!”

Centenas de trabalhadores construíam a hidrelétrica de Nova Ponte, sobre o Rio Araguari, no Triângulo Mineiro. Um engenheiro paulistano levou a filha, que fora visitá-lo, a um sítio ali perto. Na entrada, ela exclamou: “Pai, olha onde a mulher guardou o cacho de banana!”. O cacho estava no alto de uma… bananeira!

Pedi a um casal de netos do coração, com raízes no interior e há pouco vivendo na Grande São Paulo, que me mandassem uma mensagem curta sobre as árvores. Poucas linhas revelam muita saudade:

“Gosto da árvore por que ela me protege do sol, e ainda nos dá ar puro para respirar; por isso, eu a amo” (Ian, dez anos)

“As árvores são a minha vida, / Sem elas não sobreviveria. / As árvores são minha paixão / E esse poema vem do fundo do meu coração” (Victória, 11 anos)

Neste mesmo Brasil, só uma de suas milhares de cidades se chama “Pau Brasil”, no sudeste da Bahia. Nela vivem mais ou menos três mil paus-brasileiros.

Nas cidades abertas nesses imensos canteiros de obras, para abrigar seus operários, eles não plantam árvores nos jardins nem nas ruas. É que quando eles partem, elas nem cresceram. Poucos se preocupam com as árvores, mas muitos se incomodam com elas: anos atrás tive a pachorra de examinar o motivo das cartas de reclamações publicadas aqui no “Correio”, durante um mês: 84% pediam o corte das árvores de suas ruas, porque elas atrapalham. Imagine: um esbravejava contra a sombra que ela oferecia! Assustado? Aqui, mataram um Alecrim de 600 anos, porque ele tirava “a visão da Catedral”. A própria Prefeitura deixou morrer o Jequitibá-rosa, que viu esta cidade nascer e ficava diante da janela do prefeito.

A melhor definição da forma de vida das árvores nas cidades é da repórter Luciana Garbin, que teria nascido árvore não tivesse nascido gente: “Não é fácil ser árvore em São Paulo”

Pregado no poste: “Toda árvore vale mais do que o homem que a derruba”

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