Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

A novidade

Não vou dizer o nome da cidade, se não, moradores de lá me pegam. Semana passada, foi inaugurado o primeiro shopping center do lugar. Quase pela metade: nem todas as lojas estão abertas; a praça de alimentação ficou pequena para dar de comer a todos; nos cinemas, ainda instalam telas e projetores. Mas falta pouco para o “moderno templo de consumo” ficar igualzinho aos outros, de outras terras e, por que não?, da Capital, para orgulho dos bairristas locais. Abriram assim mesmo, por causa do Natal. Sabe como é: tempo é dinheiro, principalmente em templo de consumo.

Agora, comprar no shopping é o “chique no úrtimo” daquela terra. Passear, então, deixou a praça da Matriz pra trás. O negócio é as meninas subindo e os rapazes descendo as escadas rolantes, já que é impossível dar a volta em torno da construção, como se faz na praça de toda cidade. Sábado à noite, o chafariz da fonte luminosa da Catedral estava seco e a fonte não estava luminosa. Escada rolante! Sabe lá o que é isso? “Minha cidade tem escada rolante e a sua, não! Gostou?” Dizem que fizeram até curso para aprender a andar de escada rolante… Em vez de auto-escola, foi na auto-escada…

O primeiro dia foi o caos. Quem chegou atrasado levou uma hora e meia para entrar. E quem entrou de carro não conseguia sair, porque alguns não entenderam que uma porta é para sair e a outra, para entrar. No segundo dia, quebrou o ar condicionado. Parece que foi arte do sorveteiro e do dono do botequim, digo da “Ice não sei o que” e da “Não sei o que Beer”, para vender mais chope e sorvete. Shopping não tem botequim, já reparou?

Todos se divertem quando chega uma novidade. Há uns vinte anos, uma cidade ali perto inaugurou seu primeiro semáforo – num domingo. Foi colocado no meio da única avenida. Depois da missa das nove, quem tinha carro trocou a pescaria e o futebol na várzea para passear na avenida e “testar” o semáforo.

A brincadeira durou a tarde inteira. No dia seguinte, alguns ficaram de “butuca”, só pra flagrar alguém desobedecendo ao sinal. Até o cabo e os dois “praça véio” da PM. Um caminhoneiro passou direto. Perseguido pelo povo, que gritava “Barbeiro! Pega ele!”, o motorista parou o “bruto”. Saiu da boléia reclamando: “Também… Nunca vi estrada de boiada com sinaleira!”

Pregado no poste: “Seu relógio é daqueles que ainda fazem tic-tac?” Antes de falar o que os americanos fizeram em Hiroshima e Ngasaki, veja o que dona Izalene e sua tchurma fizeram na Treze de Maio, viu ô!?

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