Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

“A notícia é triste”

“Mas é preciso tomar conhecimento e comunicar.

Faleceu o professor Sylvio Salles Nogueira, nosso querido Silvio ‘Pirulito’, aquele professor magrinho, que se parecia muito com Santos Dumont, principalmente naquela foto onde o Pai da Aviação estava com um chapéu de abas para baixo.

Ele foi o grande personagem de nossas vidas, que nos ensinou ‘Trabalhos Manuais’ na velha sala nº 1 do Colégio “Culto à Ciência”.

Hoje pode parecer algo desnecessário, mas nos anos 50, 60 e 70, era fascinante aprender a tecer assentos de cadeira em ‘fio tex’; fazer sacolas e outras artes em fios cordonet e macramé; produzir dobraduras em papel, algumas como o cisne, que possuíam movimento; construir cestinhas de arame para conservar ovos de galinha (muitas vezes essas cestinhas tinham articulação e imitavam galinhas); aprender a utilizar ferro de soldar estanho; poder construir seus próprios inventos elétricos, como pequenos transmissores, caixas de som… Essas e tantas outras habilidades nos foram ensinadas naquela saudosa sala — graças à paciência, amizade, carinho e capacidade daquele mestre das artes e do desenho, artístico ou geométrico, das faixas gregas ou decorativas mistilíneas, das perspectivas, do prisma ou da estilização de uma rosa.

Lembro-me dos dois placares do nosso Ginásio de Esportes “Professor Alberto Krum”. Um possuía a forma de calendário de mesa, aonde os números se sucediam a cada volta na placa, com a ajuda de um dos nossos colegas; o outro funcionava com uma faixa numerada de zero a dez e era movida pelo giro de uma roldana embutida na placa central. Pois é isso mesmo: os dois são obra dele, em sua sala de trabalhos manuais, contando sempre com a ajuda dos alunos, que acabavam aprendendo a técnica dessas construções.

Quem estudou no “Culto à Ciência” e teve a oportunidade de entrar — por convite, convocação ou na marra, mesmo, levado por um dos inspetores de alunos (Lauro, Angelina, Colombo, Renato, Celina Mesquita, Maria, Carpino, Ravengar, Paulinho, Messias, Aurora, Cruz, Gladys, Milton, Erotildes, Ruth, Cardamone, Lourdes) na sala da Diretoria, onde sempre estavam o diretor Telêmaco Paioli Melges e nossa orientadora educacional Celina Duarte Martinho, pôde observar a maravilha de móvel logo atrás da mesa do diretor. Além das divisões fechadas por portas almofadadas, exibiam os inúmeros troféus conquistados pelos alunos, em competições esportivas e nas olimpíadas de Matemática. Numa das portas maiores, na parte baixa do armário, escondia-se a entrada de uma pequena copa e de um sanitário que servia à direção.

Que saudade! Aquilo tudo, maravilhoso como era, foi construído em período de férias pelo já saudoso professor Sylvio. Anos depois, na passagem da década de 60 para a de 70, sua disciplina foi renomeada para Técnicas Industriais. Tenho certeza de que, levando nosso Sylvio lá pra cima, Deus pretende ensinar um pouco de humanidade aos que já estão em sua companhia. Nosso mestre estava com 83 anos e foi sepultado no Cemitério Parque Flamboyant.

Professor João Tojal, Campinas.”

Pregado no poste: “Seremos sempre alunos de nossos professores. Como gostavam de nós”

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