Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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A mulher do chimpanzé

Bicho por bixo, é melhor tratar dos calouros das faculdades. O pessoal que cuida de bichos — de veterinários a biólogos — anda apavorado com a mania de gente que gosta de criar animais estranhos. Aí na Vila Industrial, morava uma moça que mantinha uma jaguatirica em casa. Não sei que fim levou a fera – ou ela. Há pouco tempo, apareceu uma anta num córrego, aqui em Ribeirão Preto. Um repórter de rádio chamou o bombeiro e ouviu do soldado a resposta mais sensata: “Você me chamaria para tirar alguém de entro de sua própria casa?”. Parecia uma anta preocupada com a outra…

No instituto Butantã, dizem que já perderam o controle. Até cinco anos atrás, recebiam um telefonema por dia de quem se queixava do sumiço de aranhas, escorpiões, sapos peçonhentos (existem) e cobras. Há quem crie naja dentro de casa. Pior: às vezes, pedem socorro porque, “o bichinho de estimação atacou alguém”. Agora, são trinta ligações por dia!

O biólogo Pedro Benzon, do mesmo Butantã, está com medo: “O assunto é sério. Há casos em que nem conhecemos o agressor. Recorremos à literatura e não há desenho nem foto do bicho descrito pela vítima. Temos de tratá-la no escuro”. Mais: “São exóticos e não há antídoto para o veneno. Estão criando um tal de escorpião paladino. Ele é preto; mede 15 centímetros; não precisa do sexo oposto para procriar e seu veneno é 15 vezes mais forte do que os escorpiões brasileiros.”. Fala Pedro: “Essa gente não conhece o perigo da proliferação desses animais estranhos.”.

Eu me lembro de uma mulher, em Campinas, que ligou para os bombeiros. Ela chorava lágrimas sentidas, suplicando para que os soldados encontrassem seu chimpanzé de estimação. O soldado Belmiro não entendia o apelo: “Mas, minha senhora, criar chimpanzé em casa?! Um macaquinho, vá lá… Mas… Seu marido não acha ruim com a senhora?”. A dita cuja encerrou a conversa: “Meu marido fugiu de casa faz tempo; nem liguei. Mas o meu chimpanzé, eu quero de volta!”

O Belmiro me contou o fim dessa história assim: “Não fomos atrás do fujão, porque ficamos com pena dele. Ela que fique ‘viúva’ do coitado!”. Será que ficou?

Pregado no poste: “Quem tem coragem de plantar uma alecrim no Largo da Catedral?”

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