Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

A fama e a grana

Antigamente, em Campinas, era por causa da fama. Agora, em Santa Bárbara d’Oeste, é por causa do dinheiro. A repórter Nice Bulhões, de Corumbá para os leitores do Brasil, conta que o prefeito de lá pede aos concidadãos: “Transfira a placa do seu carro para a cidade onde você mora”. Não se sabe porque, os motoristas de lá preferem licenciar seus veículos em Americana, Sumaré e Nova Odessa. Mistério… E Santa Bárbara perde arrecadação.

Não faz tanto tempo, em Campinas, muita gente licenciava seus automóveis em outra terras. Um amigo preferia Cosmópolis: “Nasceu lá; deve ser isso,” pensei. Outro punha as placas em Piracicaba: “A namorada é piracicabana; é para evitar ciúme dos rapazes de lá.”. Um vizinho emplacou em São Carlos: “Estuda lá.”. Mas a causa era uma só: “Quem viaja, quando chega a outra cidade, tem de agüentar a gozação.”. Era a fama de Campinas e o preconceito. Naquele tempo, diziam que o cúmulo da frescura era caminhão da Kibon com placas de Campinas…

O fotógrafo Toninho Erbolato tinha um Opala cupê branco, com placas de Campinas, mesmo. O Estadão mandou a gente fazer uma reportagem em Foz do Iguaçu, para mostrar como era a região onde, um dia, quem sabe, seria construída a maior hidrelétrica do mundo. Foi.

Bem na frente do hotel, ficava (ainda fica) o quartel do Batalhão de Fronteiras. Na guarita, o sentinela contou para o cabo, que contou ao sargento, que contou ao tenente… até alguém contar ao coronel-comandante que havia um carro de Campinas na cidade. Tempo de ditadura braba. Fomos “convidados” a comparecer ao comando. Lá, o troglodita nos exibia aos subordinados como espécies raras, vindos “daquela cidade que difama o Brasil no Exterior, com sua fama.”. Reagir como?

O coronel parecia um sádico e os subalternos, também, para imitar o chefe. Ele mandou um oficial de informações nos mostrar o material de propaganda que maculava a imagem do Brasil na Argentina e no Paraguai. Eram adesivos para automóveis. No desenho, um homem, sob uma árvore, escondia suas vergonhas dizendo para uma garota nua deitada na relva, que o chamava: “No puedo. Soy de Campinas, Brasil!”.

Pregado no poste: “Quem faz a fama se deita na relva?”

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