Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

A eterna jovem

“Incrível como a molecada gosta dela! Não dá impressão de que é mais uma aluna, a mais bagunceira, daquelas que ficam no fundo da sala? Olha lá! Agora, ela está no fundo do ônibus. A meninada disse que sempre ela é a convidada para chefiar a excursão, porque a viagem não fica chata, nem parece que havia adultos acompanhando – e vigiando – a turma.”

Esse comentário, acho, nem foi de um ex-aluno. O jornalista Antônio Carlos Erbolato estava comigo em Puerto Stroessner, antigo nome da Ciudad Del Leste, no Paraguai, fazendo uma reportagem. Era dezembro e, de repente, começo de noite, desembarca no hotel uma meninada feliz da vida – algumas diziam que iam conhecer “um país estrangeiro”, pela primeira vez. E quem é a última a descer? Ela. A bagunceira, a mais alegre e feliz entre alegres e felizes estudantes que acabavam de se formar na Escola Normal: a professora de Educação Física Dulce Stucchi.

Foi logo nos convocando para participar da excursão ao comércio de lá e ao cassino, naquela noite mesmo. Puerto Stroessner não tinha uma rua calçada, chovia que Deus mandava e os postes pareciam candelabros – não atraíam nem mariposa. Ela nos confidenciou: “Será que eu acho um agasalho Adidas para o Pedrinho? Vocês me ajudam? Se achar, compro dois bem grandes e vocês vestem lá no ônibus. Não tem perigo, passa como roupa de uso pessoal. E vocês, o que querem levar?”. A novidade era relógio digital e isqueiro movido a gás e a magiclick (lembra?).

Acompanhados daquela meninada em algazarra pelo “país estrangeiro”, não encontramos nada. Nem eles. Felizmente. Já pensou na manchete? “Professora, alunos e ex-alunos presos com muamba na volta do Paraguai”. O que o querido Pedrinho ia pensar da gente?

Fomos ao cassino. Antes de a porta do ônibus se abrir, ela gritou a ordem lá do fundo: “Aqui eu quero que vocês vejam as caras de desespero dos jogadores. São todos uns perdidos na vida. É bom para que vocês aprendam a nunca, nunca!, jogar fora o dinheiro que se ganha trabalhando! Se quiserem brincar no caça-níqueis, pode. Mas o dinheiro, quem dá sou eu? Combinado?”

Puts! Todo mundo obedeceu! Até nós, lembra Toninho?

Quando chegávamos ao posto da Polícia Federal, ela viu uma sacolinha na minha mão. Era a única lembrança daquele lugarzinho medonho, um xale para minha avó. “Dá aqui que eu passo com isso em volta do pescoço. Essa gente é louca por uma gorjeta!”

Essa companheira do nosso Pedrinho e mãe do Serginho, da Cecília e da Ana está no Céu. Hoje, até Deus está ofegante. Nem Ele escapa da malhação da dona Dulce. Um beijo, querida!

Pregado no poste: “Campinas está indo para o Céu?”

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