Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

A dúvida

Geralmente, quem sabe muito sobre tudo sabe tanto que até sobra conhecimento, mas se perde quando precisa saber coisas óbvias. Quase sempre são os cientistas. Sobra tanto conhecimento que, generosidade é com eles, ensinam com a maior alegria tudo o que sabem. São capazes de descobrir os segredos genéticos mais profundos do feijão, produzir a melhor lavoura de feijão do mundo, mas na hora de cozinhar uma panela de feijão… Deus nos acuda! Digo, socorro, dona Benta!

O Evaristo Miranda, por exemplo, pai do Daniel. Quando quer esfriar a cabeça e descobrir os motivos de algo estranho que o cerca, liga para uma conversa descontraída. Sorte minha, que aprendo mais. Um dia vou pedir a ele que conte, de novo, como foi a abertura do Estreito de Gibraltar, para o Atlântico entrar entre a África e a Europa e formar o Mar Mediterrâneo. Ele narra essa história com tanta precisão e entusiasmo… Parece que esteve lá. Quando me contou, estávamos no saguão do aeroporto de Ribeirão Preto. De repente, todos os passageiros nos cercavam para ouvir. Quando ele arregalou os olhos e exclamou: “Meu Deus! Imagine! O homem viu aquilo!”, sei não, acho que alguns nem se incomodaram de perder o avião.

Ontem, ele ligou para amenidades. Sabe como é o grito de guerra da torcida do Colo-Colo, do Chile? Um torcedor, e só um, brada: “Como el Colo-Colo non hay!” E a galera responde “O rai”! Sabe o que quer dizer esse “o rai!”? É “all right” – todos concordando, em inglês, que como o Colo-Colo não há outro. Aqui, quando a bola passa raspando a trave, ouve-se no Brasil inteiro: “Uuuh!”. No Chile é “Xuxa!!!”. E na França, “Uh lá, lá!”.

Hoje o grito das torcidas degenerou. Sou do tempo em que, vez ou outra, quando a Ponte fazia um gol no Guarani, gritavam: “Um, dois, três! O Bugre é freguês!” Os bugrinos nem podiam responder, porque “três” não rima com “freguesa”… Foi aí que inventaram aquele: “Um, dois, três, quatro, cinco, mil! Queremos que a Macaca…” Não me lembro do resto, desculpem.  Mas no Majestoso ou no Brinco, torcedores cansaram de ouvir “Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora…”.

Agora, nos estádios da vida, é moda entoar uma canção religiosa americana, “When the saints go march in…” Cantam, mas nem sabe o que é. Nem eu. Lembro-me de que Bill Haley cantava bem isso, em ritmo de rock. Outros gritam “Uh, tererê!” É para avisar que ali tem maconha; e não tem polícia…

Por falar em Ponte, Guarani, Majestoso, o cientista Evaristo Miranda quer saber, com a exatidão que cientista gosta, porque o Guarani é chamado de Bugre, a Ponte, de Macaca e o “Brinco de Ouro da Princesa” tem esse nome. Alguém ajuda quem cedo madruga, como ele?

Pregado no poste: “Dona Izalene, a senhora ficará até o fim do mandato?”

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